VOCÊ SABE O QUE É COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA?

Veja como esta proposta está mudando a forma de se relacionar e de olhar o mundo, e principalmente as pessoas com as quais convivemos

Você sabe o que é Comunicação Não Violenta? Conversamos com uma pessa que tem se dedicado a trabalhar pela difusão desse conceito por meio de ações como palestras e workshops. A Relações Públicas Vivian Laube, que está à frente da LF Comunicação Integrada explica como tem sido trabalhar essa proposta que visa principalmente Iidentificar a nossa posição em conflitos, olhar por um outro ângulo. E isso faz toda a diferença. Desde o ano passado, Vivian vem dando palestras com o tema Vamos Aprender a Conversar? mobilizando a sociedade em torno do assunto por meio de entidades de classe e outros grupos. Confira nossa conversa com Vivian.

Temas Preferidos - O que é, qual o conceito de comunicação não violenta? E como você começou a atuar nesta área?
Vivian Laube
- Comunicação Não Violenta vai muito além de uma técnica, na verdade é um novo olhar para as pessoas e como elas se comportam. Ela ensina a nos comunicarmos respeitosamente, atendendo às nossas necessidades e as do outro, partindo da conexão com que sentimos e com o que o outro sente. Conheci a CNV em 2018 e de imediato percebi a potência deste modo de nos comunicarmos. Meu primeiro contato foi através da leitura do livro do Marshal Rosenberg, o criador desta "metodologia". Depois fui buscar formações, que não são muitas ainda, mesmo a CNV tendo mais de 30 anos e ser disseminada em muitos países. Fiz um curso básico com o Dominic Barter e uma imersão de uma semana na Uniluz, São Paulo, com Sven Fröhlich e Carol Cassiano. Em janeiro fiz mais uma imersão na Uniluz, aprofundando as práticas. Faço parte da Rede Semear, que dissemina a cultura da não violência.

TP - A quem ela se aplica e de que forma?
VL
- Sempre digo que se eu tivesse conhecido a CNV quando criança, isso teria me poupado muitos desgastes em conflitos desnecessários, muitas discussões inúteis, e menos sofrimento. A CNV é um modo de ver as situações a partir dos fatos, e observar nossos julgamentos para analisarmos quais são nossos sentimentos e necessidades não atendidas. Partindo de um olhar para o outro como ser humano, que tem as mesmas necessidades que eu, porém, só escolhe estratégias diferentes das minhas para atender suas necessidades. Então, ela se aplica a todas as relações, pessoais e profissionais.

TP - Como tem sido o seu trabalho no sentido de trabalhar esse conceito na sociedade?
VL
- Em setembro de 2018 fiz minha primeira palestra em Porto Alegre, na Casa da Confraria, a convite da Iva Cardinal. E não parei mais. Entre setembro e dezembro eu falei para mais de 350 pessoas, através de palestras abertas ou workshops, de modo independente ou realizados em parceria com entidades como Sindilojas Taquara, CDL Novo Hamburgo, ou ainda, em empresas. O tema que apresento é Vamos Aprender a Conversar? Como ter diálogos mais assertivos e significativos em nossas relações pessoais e profissionais. Neste ano apresentarei o tema sob outros olhares, com workshops intitulados: Criando Conexão com o Cliente, O Lado Bom do Conflito, Comunicação Empática no Ambiente Corporativo, Um Novo Olhar para o Feedback. Farei também um workshop com foco em casais, estão me pedindo. E outro para pais. Tenho uma empresa, a LF Comunicação Integrada, e atuo com outros projetos também.

TP - Que resultados você tem percebido desde que começou a trabalhar na aplicação deste conceito?
VL
- O melhor resultado acontece dentro de mim, e na minha casa. Nas relações mais próximas e que são, normalmente, mas difíceis, ou mais conflituosas. Minha filha, meu genro, minha enteada, o namorado, os sogros da minha filha, minhas amigas mais próximas, todos já participaram de palestras ou workshops. Isso é muito gratificante, porque posso exercitar no dia a dia, e perceber as transformações. Por exemplo, se eu vejo algo que não está sendo feito do modo como eu gostaria, eu não reclamo mais. Primeiro, eu tento entender porque não foi feito. Depois eu penso o que de fato eu sinto quando isso acontece e porque é tão importante para mim. Só nesta análise, eu já consigo ver o lado do outro, se é ou não importante para ele como é para mim. Quando eu vou fazer um pedido a ele, eu digo: eu me sinto incomodada quando vejo que tal coisa não está sendo feita de tal modo, porque para mim é muito importante ver isso acontecer. Ou seja, dou detalhes, parto do fato, e digo o que é importante para mim. Não preciso acusar o outro de não ter feito.

TP - O que fica para quem participa destes treinamentos e palestras, como esse conceito de comunicação pode ser aplicado no cotidiano?
VL
- Quando faço minhas palestras, observo o olhar das pessoas. E conforme vou desenvolvendo o tema, vejo claramente o impacto que ele gera. Porque, de modo geral, não temos noção de como nos comunicamos e como isso reflete no outro. Ninguém nos ensina sobre isso. Nem na faculdade. As avaliações ao final dos workshops também são um modo de checarmos o que de fato ficou para as pessoas. É muito gratificante receber feedbacks positivos e pró ativos, no sentido de um compromisso que as pessoas começam a ter para buscar saber mais e aplicar no dia a dia.

TP - Pensando na nova etapa que se inicia, ainda estamos em fevereiro, é possível fazer um planejamento com base no conceito de comunicação não violenta?
VL
- Com certeza! Podemos sempre partir do que já está indo bem e escrevermos sobre isso. Se chama apreciação. Fazemos uma lista das conquistas ou fatos ou relações que estão indo bem. E a partir disso, pensamos no que pode melhorar, ou em novas conquistas. Isso também é muito mágico, porque quando aprendemos a apreciar o que temos, valorizamos mais, e só precisamos melhorar, não partir do zero. Outra sugestão é fazermos pedidos para o novo ano que dependam somente de mim, não do outro. Porque temos este hábito de achar que o outro irá nos trazer felicidade, que o outro irá mudar seu comportamento. Isso é uma ilusão. O foco na CNV é sempre para nós mesmos. Se eu não estou feliz, sou eu quem tem que mudar, se o outro não me entende, sou eu quem devo me esforçar para me comunicar melhor. Se eu tenho dor, sou eu quem deve buscar o médico. Façam uma lista dizendo, eu vou fazer .... para atender a minha necessidade de ...... e me sentir mais..... A CNV, como eu disse, não é uma técnica de comunicação. Ela faz uma mudança no nosso modo de ver o outro e as coisas que acontecem. E isso muda tudo. Ela não tem como foco evitar o conflito. Porque conflito é bom, é necessário, e é base de todas as relações. Pessoas não concordam o tempo todo. O que muda é a nossa posição num conflito. Ele deixa se ser um ganha-perde para ser um ganha-ganha, onde ambos, aprendem a partir do olhar do outro para a mesma situação, e conseguem chegar a um acordo que atenda, pelo menos em parte as necessidades de ambos.