TERAPIA ON-LINE: NOVOS TEMPOS EXIGEM NOVOS MÉTODOS

Pandemia do novo coronavírus tem levado muitos atendimentos ao universo remoto e a psicoterapia on-line ganha cada vez mais espaço

Pega um chimarrão, um chazinho ou aquele café, e vem ler um conteúdo interessante. Se você quer saber mais sobre a sua saúde e uma das formas de manter o equilíbrio emocional em meio à pandemia, vai querer saber mais sobre a terapia on line.

Tudo o que fazemos, e como fazemos, precisou mudar. Desde março de 2020, a vida do ser humano não é mais a mesma. Tudo precisou de uma readequação e as rotinas tiveram de ser adaptadas. Com o atendimento psicológico não é diferente. Em tempos de home office, video conferências, a terapia também entrou na lista do on-line. Uma das ferramentas mais importantes para o autoconhecimento e para a qualidade de vida, a terapia ganhou em seus métodos novas nuances a partir da pandemia.

Terapeutas e pacientes precisaram adequar-se não somente à tecnologia, mas entender junto do tratamento, a importância deste distanciamento. Por isso, o que queremos mostrar aqui é a posição de terapeutas e pacientes, que avaliam, e até mesmo descobrem, essa nova forma de buscar o equilíbrio, com a ajuda essencial da tecnologia, mas, claro, com o olhar humano, apaixonado, do profissional que valoriza a vida e os relacionamentos dos quais ela é feita.

Conversamos com as psicólogas Aurinez Rospide Schmitz e Ceciliana Candemil da Silva, que também é neuropsicóloga. Elas falam desta experiência imposta pela pandemia e asseguram que, apesar da mudança nos hábitos e nas rotinas das pessoas, a essência da terapia permanece a mesma, ajudar o paciente a encontrar seu caminho, a se encontrar. 

Importante ressaltar que a prestação de serviços psicológicos realizados por meios de tecnologias da informação é regulamentada através da Resolução CFP nº11, de 11 de maio de 2018. Atualmente, há a Resolução CFP n° 04/2020 que regulamenta o atendimento psicológico on-line durante a pandemia.

TERAPIA ON-LINE É DESAFIO PARA OS DOIS LADOS

"A pandemia exigiu uma transição abrupta, uma mudança da noite para o dia. Todos os pacientes tiveram a possibilidade de migrar para o on line, mas nem todos quiseram", diz Aurinez, ao reconhecer que ainda há resistências. A proteção de um espaço físico, a sós com o terapeuta, promove uma sensação maior de estar à vontade com suas declarações protegidas, sem que ninguém mais as ouça. "Quem não seguiu on line foi por não ter um espaço reservado para isso", pondera Aurinez.

Ceciliana, também compartilha da opinião de Aurinez quando conta que alguns de seus pacientes nem quiseram tentar a transição para o on line. "Como trabalho com Terapia Cognitivo Comportamental, utilizo muitas tarefas e recursos físicos, exigiu bastante flexibilidade cognitiva (e ainda exige!) para adaptar alguns recursos", completa Ceciliana.

A jornalista K.P.G, de 29 anos, faz terapia desde os 6 anos de idade. Em 2017, precisou mudar de cidade e, para não trocar de terapeuta, decidiu manter o atendimento de forma remota. "Gosto da terapia on line, mas prefiro presencial, é mais confortável falar pessoalmente. Por outro lado, o atendimento on line é muito prático e possibilita conciliar com outras coisas que o cotidiano exige", afirma a jornalista.

Já a promotora de eventos, A.C.P, 34, não se sente à vontade com o atendimento on-line justamente pelas razões relatadas por Aurinez. "Não consigo encontrar um local calmo e sossegado para me abrir e falar como acontece no consultório. Sinto muita falta das sessões, mas ainda prefiro esperar um pouco para poder estar frente a frente com o meu terapeuta", avalia A.

PACIENTES PRECISAM SE COMPROMETER COM A TERAPIA ON-LINE DO MESMO JEITO

Para Aurinez, que é psicóloga há 28 anos, as sessões remotas, quando são feitas com uma boa conexão de internet, tanto para o profissional quanto para o paciente, são excelentes e pouco deixam a desejar em relação às presenciais. "Eu vou entender e compreender o paciente do mesmo jeito. Mas, o atendimento presencial me dá outros contornos que o on line não dá, as sensações corporais se perdem, por exemplo", acrescenta Aurinez.

Ceciliana ressalta que o resultado do tratamento sempre vai depender também do comprometimento do cliente com a terapia. Até o momento, diz ela, tem tido feedbacks positivos quanto ao atendimento on line. "De qualquer forma, os pacientes que iniciaram suas terapias na modalidade presencial, e que migraram para o on line, sempre alegam saudade do setting terapêutico presencial", afirma Ceciliana que atua há 4 anos.

Para K, nesse contexto todo, o conteúdo é muito mais importante do que a forma como se faz a terapia. "O resultado independe do meio, a evolução do tratamento e acompanhamento com um bom profissional vai ter bons resultados", assegura a jornalista.

Na opinião da advogada T.S.L, 28, o atendimento on-line democratiza a terapia e coloca a possibilidade do tratamento mais próxima de quem tem problemas com deslocamento ou de tempo. Às pessoas que ainda têm receio desse tipo de proposta, a advogada orienta: "Creio que é preciso deixar os preconceitos de lado e experimentar. Com a ajuda de um bom terapeuta, são grandes as chances de que esse tempo de autoconhecimento, ainda que on-line/à distância, seja de grande crescimento", diz T., que começou a terapia há 1 ano e dois meses e há quatro meses faz on-line.

Quando a pandemia acabar, diz ela, a ideia é mesclar os dois métodos pois, apesar de todos os benefícios da forma remota, ainda acredita no contato humano, "olho no olho" com o terapeuta e o ambiente da terapia como grandes agregadores do tratamento.

Assim, antes de tudo, conclui-se que o fundamental é encontrar um profissional que inspire confiança e  a melhor forma de colocar o tratamento em prática. Para quem ainda tem dúvidas, K. aconselha uma primeira sessão de forma presencial e em seguida manter on line. 

Aurinez acredita na prática on-line como uma tendência que só cresce. "Não tenho desconfiança da eficácia, nem receio da terapia on line, analisando, ainda que de forma empírica, pelo que identifico nos meus pacientes, vejo que o resultado é muito positivo, é válido da mesma maneira que o presencial porque o paciente tem a oportunidade de ser ouvido e avaliado por um profissional e de trabalhar as suas condições emocionais", completa Aurinez.

Ceciliana reforça a ideia quando afirma que estudos mundiais comprovam a efetividade da psicoterapia on line e que a relação terapêutica equivale à presencial. "É uma prática habitual em vários países, por isso, o paciente precisa, antes de mais nada, se permitir a novas experiências", salienta Ceciliana.