TER UM FILHO NÃO É UMA ESCOLHA RACIONAL

"No início foi muito ‘punk’. Mas quando se trata de inícios, quase nenhum é fácil. Ter um filho é uma dedicação, quando se tem dois, além da dedicação dupla, a culpa vem muito mais forte"

Por Lola Carvalho*

Estava falando com uma amiga que está em dúvida se vai ter o segundo filho ou não.

Contei pra ela que também passei por isso. Tinha muitas dúvidas.
Meu marido queria muito e eu queria "médio" e, alguns dias, quase nada. Ainda mais, quando percebia que a minha vida estava voltando ao normal. Mais liberdade, mais tempo, menos despesas.

Para amenizar a pressão, fui empurrando com a barriga. Primeiro, queria que o meu mais velho, saísse das fraldas. Quando saiu das fraldas, queria que estivesse mais independente.

Quando estava mais independente, queria investir na minha carreira.
A resposta era sempre depois, depois, depois... até que um dia, me dei conta de que estava com 38 e não queria - e nem podia - esperar mais. E, enfim, aconteceu, mas foi uma surpresa. Achei que ia demorar para engravidar com essa idade.
 

Hoje, me dou conta de que se eu fosse pensar muito mais, ele não esttaria enchendo a nossa casa com a sua alegria e a risada mais incrível que podemos ouvir todos os dias.
 

O Caetano veio e eu me tornei mãe de dois.
 

No início foi muito ‘punk’. Mas quando se trata de inícios, quase nenhum é fácil. Ter um filho é uma dedicação, quando se tem dois, além da dedicação dupla, a culpa vem muito mais forte, ainda mais nos momentos em que precisamos optar por atender um ou outro.
Mas hoje, eu olho para nossa família, fico observando os dois juntos e penso: que bom que me deixei levar pela coragem e não pelo medo.
 

Me emociono vendo a relação de amor que eles estão construindo. A cumplicidade, o instinto de defender um ao outro. Até as brigas comuns entre irmãos, que aumentam bastante à medida em que eles vão crescendo e mudando de interesses, são importantes para o crescimento de ambos.
 

É uma troca sem explicação. Eu não seria a mesma pessoa se não tivesse irmãos e sou grata aos meus pais por terem pensado assim e me proporcionado saber o significado desse amor.
Mas não julgo quem não tem certeza ou àquelas que não querem ter filhos.
Ter filhos é muito desafiador. Quando passa uma etapa, vem outra tão exigente quanto a anterior.

E para tornar tudo ainda mais complexo, o mundo de hoje nos desafia todos os dias.
Somos engolidos por uma sociedade altamente consumista onde a busca desenfreada por ter, ter, ter e ter, torna tudo descartável em questão de dias.

Um mundo que gera milhões de toneladas de lixo inútil e principalmente, uma geração de crianças que vêem seus pais duas horas por dia, pois eles têm que trabalhar duro para dar tudo aos filhos.

Somos os pais de uma geração que tem no tablet e no celular o seu mundo e muito da sua interação.

Realmente não é simples decidir ter filhos. É um abrir mão constante. É inverter totalmente as prioridades. É pensar primeiro neles e depois, em nós.

É lidar com a culpa de ler uma história com pressa. É lidar com o medo de que alguma coisa ruim, algum dia na vida, possa acontecer com eles. É o medo da perda, o medo que eles sofram.

É encarar o fato de que nossos filhos não são sempre como idealizamos.
Mas ao mesmo tempo, é perceber que a felicidade é mais simples do que imaginamos.

Os problemas, o estresse no trabalho, o cansaço, tudo acaba tendo uma proporção menor, quando temos filhos.

Sinto uma sensação de gratidão diária, quando acordo pela manhã e vou até o quarto deles, abro a porta e sinto aquele cheirinho de sono. É sem explicação o cheirinho de filho. Assim como é sem explicação o amor que sentimos por eles.

Mas esta coluna não é para te convencer a ter filhos. Cada um sabe de si e tem noção das suas limitações, prioridades e verdades. Lá no fundo, todos sabemos a resposta.

*Lola Carvalho é publicitária, jornalista e mãe de dois. Sempre foi apaixonada pelas palavras e pela música. É gaúcha de São Sebastião do Caí, mas aos onze anos mudou-se para Novo Hamburgo.

Com o nascimento do primogênito, Francisco, em 2009, viveu a maior transformação da sua vida. A maternidade trouxe à tona sentimentos novos e singulares. Tudo isso foi sendo registrado em textos escritos pela publicitária que encontrou nas palavras uma forma de externar seus medos, frustrações, desafios e falar do amor que crescia dia após dia.

Com a chegada do Caetano, seu segundo filho, a maternidade se revelou em novas páginas, que foram reunidas em seu livro de estreia Mãe Sem Limite: um livro de crônicas que trata sobre as aventuras e desafios de ser mãe.

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