TAMBÉM TENHO MUITO A ACRESCENTAR, VIU?

A pequena Claudinha nos ensina que todo mundo, independente da idade, é importante e pode fazer a diferença

Por César Silva*

Claudinha não manda falar! Ela tem 10 anos e responde mesmo! Ficava chateada toda vez que comentavam sobre um assunto e não a incluíam no circuito. Mas ela é muito jovem!?!E daí, pensava ela, não faço parte dessa família?

Chegava a ser estressante, mas muitos levavam na brincadeira. É como se fizessem de conta que a escutassem e deixavam para lá. A mãe, sempre preocupada, pensava no que ia dar aquele caminho. E o pai, observava sem nada comentar.

Até que um dia a conversa na sala foi sobre aumentar a família com mais um componente. Claudinha já tinha ido a seu quarto e seus pais conversavam baixinho, para não a "acordar". Ledo engano! Ela estava de "butuca". Ela foi chegando perto da conversa e lascou:

- O que vocês pensam que estão discutindo sem a minha presença? Querem me dar um irmão ou irmã sem me consultar se é isso que eu quero? Vocês não me valorizam e não me respeitam! E vou dizer mais, com os olhos cheios de lágrimas: vocês querem que eu escute e vocês fazem de conta que a minha opinião é importante. Acham que eu não sei?

Os dois se olharam com uma cara de espanto e sem saber muito o que fazer pediram para ela sentar com eles para conversar.

- Conversar sobre o quê? Vocês já decidiram!!

- Não filha, dizia a mãe. Estamos somente analisando a possibilidade. Você não gostou?

- Mãe! Não é isso! Vocês pensaram em me consultar sobre essa mudança aqui em casa? Sei que só tenho 10 anos mas também tenho sentimentos!

Aquele reação da filha deixou os pais mais perplexos ainda! O pai, com calma, retrucou:

- Vamos dormir, amanhã falamos com calma! Levo você para a cama filha!

A calma e o carinho daquele pai fizeram Claudinha baixar a guarda. Foram dormir em paz naquela noite!

No outro dia de manhã, era um sábado, os pais levantaram cedo e prepararam um café com ingredientes que Claudinha amava. Subiram as escadas em silêncio, entrando no quarto da filha com cautela. Cada um sentou de um lado da cama e acordaram ela com beijinhos e carinhos. Que amor!

Eles haviam percebido que há muito tempo não tratavam a sua filha com o carinho que queriam. Faltava mais conversa, mais tempo de convivência, já que os dois trabalhavam muito, e, principalmente, mais atenção! A mágoa dela não era com o assunto, mas em sentir-se excluída!

- Bom dia meu amor! Estamos aqui para lhe lembrar que te amamos muito! Desculpe se em algum momento deixamos de falar e demonstrar isso a você!

Claudinha caiu em prantos e abraçou os pais como há muito também não fazia. Ela se sentiu segura, amada e valorizada e, mais do que isso, parte daquela família. Ela era uma criança feliz! Mas aquilo estava a incomodando, principalmente pela contínua insistência em ouvir seus pais. Ela também queria ser ouvida!

- Filha, a partir de hoje, vamos mudar algumas coisas aqui em casa. É claro que a decisão final sempre será nossa, mas não podemos lhe excluir de pelo menos saber o que está acontecendo em nossa vida. Amamos tanto você que nunca pensamos em lhe magoar de qualquer jeito, mas aconteceu.

- Sei que precisamos ter mais tempo para ficarmos juntos e já conversamos em mudar nossos planejamentos de carreira, pois você é nosso amor maior. Saiba filha, eu e seu pai nem sempre sabemos como agir com você, pois és nossa filha única. Vamos crescer como família!

Claudinha, que sempre respondia de pronto, não sabia o que falar. As lágrimas falavam mais alto do que qualquer palavra. Aquele café da manhã teria sido o dia mais feliz da sua curta vida.

- Pai, mãe! Nunca vou me esquecer desse dia! Obrigado! Amo vocês!

Aquele final de semana foi maravilhoso e o que, antes era uma preocupação, se transformou num momento de crescimento e amor familiar. Quem iria imaginar que a Claudinha espoleta seria a Claudinha amada!

Enquanto a filha brincava no parque o pai sussurrou para a mãe:

- Temos uma filha maravilhosa! Só precisávamos descobrir isso e aprender a mostrar nossos sentimentos!  

As lágrimas correram nos rostos amados dos pais e aquela família seguiu seu caminho e seu crescimento...

Nem sempre ouvimos verdadeiramente quais são os reais sentimentos que envolvem nossa relação familiar. Não importa quem seja, sua idade ou importância, escutar se torna um exercício de amor e de compreensão! Vai que você se surpreenda também?!!

*César Silva é professor, escritor, consultor, mentor - Head of Business @cesarsilvasimplesmente, Professor/Tutor Externo IERGS/Uniasselvi, Conselheiro da Fenac S.A.