SÍNDROME DO IMPOSTOR: VOCÊ SABE O QUE É?

Condição que afeta muitos brasileiros é marcada, entre outros sintomas, pela autossabotagem, mas pode ser tratada

Se você, ou alguém que você conhece, se sente excessivamente incapaz, tem uma constante sensação de estar deslocado, que seu valor é medido pelo seu sucesso ou gasta tempo demais em tarefas que deveriam ser simples, esses podem ser sinais para procurar ajuda. Isso significa uma condição de sofrimento. E mais, pode ser sintomas da chamada Síndrome do Impostor. Muito mais comum do que se pode imaginar, e se identificar, essa condição tem atingido cada vez mais pessoas e tocar no assunto é urgente.

Especialistas nos ajudam a indicar caminhos para a busca de ajuda e esclarecimento sobre uma situação que embora ainda não seja reconhecida nos manuais de diagnósticos internacionais, já vem sendo bastante estudada, como explica o psicólogo Luiz Mateus Pacheco, que atende em Novo Hamburgo (RS), no Núcleo de Atendimento Psicológico (NAP).

De acordo com ele, a Síndrome do Impostor é uma condição marcada pela forte crença na incapacidade ou no não merecimento e que pode se manifestar em diversas áreas da vida de um sujeito, frequentemente no trabalho, mas não apenas restrita a esta. A pessoa que sofre desta condição tem certeza de que é uma fraude e, não importa o quanto se esforce, o quão bem desempenhe determinada função ou o sucesso que atinja, acredita que não é merecedora, geralmente atribuindo os seus sucessos a causas externas – mesmo que apenas em sentimento, ou seja, sem que expresse isso verbalmente.

"Falamos aqui de algo que pode representar uma quebra de contato com a realidade e que pode também se expressar pela sensação de que não se vive verdadeiramente, como se desempenhasse um papel", completa Pacheco. Esta síndrome teria sido descrita pela primeira vez em 1978 pelas psicólogas e pesquisadoras Pauline Rose Clance e Suzanne Imes, da Universidade Estadual da Geórgia.

A Síndrome do Impostor se manifesta por um profundo sentimento de não valia, uma baixa autoestima e é frequentemente associada a uma necessidade muito grande de agradar os outros que pode se traduzir em enorme carisma e proatividade, o que pode maquiar a condição. Quem sofre dessa síndrome, continua Pacheco, nem sempre é alguém cabisbaixo, tímido ou com uma aparência de insegurança. Como se sentem não merecedores, os comportamentos de autossabotagem também são comuns, geralmente operando de modo inconsciente, ou seja, o sujeito não se dá conta de que busca fracassar para não assumir um cargo para o qual não se sente capacitado ou que termina uma relação porque se sente não digno de amor, por exemplo. "O perfeccionismo extremo pode ser outro traço que, novamente, pode se traduzir em trabalho bem feito, mas nunca reconhecido como bom o bastante pela pessoa acometida pela condição", sinaliza o psicólogo.
Um dos sintomas mais fortes da Síndrome do Impostor, de acordo com Pacheco, é a autossabotagem. O sujeito nesta condição tende a se autossabotar por não se sentir verdadeiramente capaz ou merecedor. "Porém, nem sempre a autossabotagem é sinônimo da Síndrome do Impostor", alerta.

Gatilhos

Mas, o que será que pode causar a Síndrome do Impostor? Ela está frequentemente associada a ambientes altamente competitivos ou a uma infância marcada por uma espécie de desconexão consigo mesmo e uma tentativa excessiva de corresponder às demandas ambientais como pais, empregadores, professores, entre outros, mas nunca de maneira suficiente.

"Suas experiências de sucesso não são sentidas como próprias por serem demasiadamente calcadas nos outros ou insuficientes por partirem de uma fantasia de exigência que nem sempre é a real. O sujeito se torna reativo, funcionando majoritariamente em resposta a esse ambiente, e pode perder, nesse caminho, a capacidade para a espontaneidade", explica Pacheco. E, não é raro, continua, que esses pacientes, além de não reconhecerem suas capacidades, apresentarem dificuldades de reconhecimento de seus gostos pessoais ou até mesmo de suas necessidades. Isso é grave pode levar a quadros mais preocupantes, como a depressão ou o Burnout.

A Síndrome do Impostor e a pandemia do coronavírus

A psicóloga Greice Carvalho, professora do curso de Psicologia da Estácio RS, apresenta dados da plataforma LinkedIn que aponta que quase metade dos profissionais (49%) afirmam que a pandemia afetou negativamente a confiança no trabalho e uma das explicações é justamente a Síndrome do Impostor. No Brasil, 43% das pessoas que responderam a esta questão dizem que não sentem que são bons o bastante em suas funções, número número superior ao encontrado em países como Itália (34%), França (36%), México (38%), Alemanha (39%) e Espanha (41%). No estudo, realizado em dezembro de 2021 pelo Linkedln, foram ouvidos mais de mil entrevistados que apresentam como principais motivos para essa insatisfação a busca por melhores salários e a necessidade de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Em contraponto, Pacheco diz não acreditar que a pandemia possa ser um fator causador da Síndrome do Impostor, no entanto, afirma, pode ser um fator potencializador dos seus sintomas. Para alguém que se sente insuficiente, diz o psicólogo, e inadequado quanto às suas próprias capacidades, o isolamento social ou ter tido que lidar com momentos menos produtivos podem ser elementos extremamente ansiogênicos e capazes de acionar culpa. Ou seja, quem sofre da síndrome pode ter se sentido muito aquém das pesadas exigências que faz a si mesmo e com uma necessidade enorme de compensar.

Para Greice, é importante entender que todos os seres humanos possuem qualidades, fragilidades e vulnerabilidades. Todos os indivíduos possuem diversos aspectos a serem compreendidos. “Se estamos descrevendo todos os indivíduos da sociedade como seres globais, qual motivo para não me compreender e respeitar como indivíduo que pode se olhar dessa forma?”, questiona a psicóloga.

Identificar essas situações é a melhor forma de saná-las ou prevenir que o problema ganhe contornos e consequências maiores. Por isso, o mais indicado é sempre procurar ajuda profissional. Greice explica que o tratamento para essa síndrome é feito através de acompanhamento, trabalhando as distorções de pensamento para diminuir sensações de fraudes e respeitando as limitações. “É preciso entender que todos temos qualidades e defeitos. Importante aceitar que todos nós erramos, que não precisamos ser perfeitos”, avalia.