SETEMBRO AMARELO E PREVENÇÃO AO SUICÍDIO: ENTENDA OS SINAIS, AJUDE, BUSQUE AJUDA

Neste 10 de Setembro, Dia Mundial de Combate ao Suicídio, um alerta importante para um problema que não escolhe gênero, idade ou classe social

Você sabia que uma pessoa comete suicídio a cada 40 segundos no mundo? Isso significa que ocorrem 800 mil mortes por ano e diante do dado apresentado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), temos aí um grande problema de saúde pública. Neste 10 de Setembro, quando é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Suicídio, é preciso, antes de tudo, lembrar que não se deve pensar no assunto apenas um dia do ano ou somente durante o Setembro Amarelo. A data instituída pela OMS é importante, mas deve servir de alerta contínuo.

Por isso, leia esse texto com atenção, e caso se identifique com alguma situação, seja pessoalmente ou com alguém que você conheça, peça ou ofereça ajuda.

Falar de suicídio ainda é tabu, ainda é difícil abordar, o assunto doi, incomoda e muitas vezes a opção mais fácil é simplesmente não falar. "Olhando pelo lado dos familiares, que convivem com uma pessoa com risco de suicídio, o sentimento pode ser de muita impotência e desinformação sobre o que fazer nestas situações, o que por vezes, pode levar a uma negação do risco real que o suicídio representa, ou não saber a quem recorrer. Já sob o aspecto do suicida há vários outros sentimentos envolvidos, o que torna mais complexo esse olhar. O tema suicídio ainda precisa ser muito debatido e principalmente desvelado", explica a psicóloga, especialista e mestre em Psicologia Clínica, Silvana Magayevski da Silveira.

Nesse contexto todo, o olhar, seja ele para nós mesmos ou para aqueles que estão próximos de nós é fundamental. Pessoas com tendências suicidas, ou que estão decididas a tirar a própria vida, dão sinais de sua intenção. Mas, de acordo, com Silvana, neste caso, é preciso distinguir alguns aspectos como transtornos mentais, surtos psicóticos, depressão, outras doenças, ou situações pessoais, que levam uma pessoa a cometer o suicídio como forma de abreviar os sofrimentos.

E como saber, quais são os tipos de situações, emoções e sentimentos desencadeadores de processos que podem levar ao suicídio? Segundo Silvana, se falarmos dos transtornos mentais, podemos citar comportamentos instáveis e impulsivos, bipolaridade e Bordeline, salientando o uso abusivo de substâncias, como álcool, drogas ou medicamentos. "Num surto psicótico, o paciente apresenta alucinações auditivas ou visuais que o levam a querer fugir daquilo que é persecutório, ou que dentro de sua cabeça, dá os comandos para que o faça", diz Silvana, que também é docente e supervisora do Instituto de Psicologia de Novo Hamburgo (IPSI).

Já em um quadro de depressão, continua ela, alguns dos sintomas e sentimentos podem ser de tristeza, desesperança, desamparo, fracasso, culpa por alguma perda significativa (seja esta afetiva ou até mesmo material), conceito de autoimagem desvalida, entre outros).

Para que tudo isso possa ser visto como sinal de alerta, a psicóloga ressalta que em situações de surtos é mais visível, pois a pessoa tende a ter momentos de intensas explosões, agressividade, atitudes impulsivas e descontroladas, o que torna a convivência bastante difícil. Mas em casos de depressão, destaca Silvana, por vezes, a pessoa tende a se isolar e não conseguir buscar ajuda. "Os sentimentos são tão intensos que a tendência é de uma imobilização de busca de auxílio, sente-se "sem saída" e sem uma perspectiva de que a situação possa melhorar", completa.

Diante de todas essas constatações, a melhor alternativa é o tratamento, a busca de auxílio de profissionais da saúde. Em casos agudos, diz Silvana, muitas vezes a internação hospitalar é recomendada, assim é possível adequar medicação para abrandar sintomas de forma que a pessoa volte a conseguir pensar. "Saliento que a psicoterapia é necessária, pois o paciente necessitará reconstruir suas capacidades internas (psíquicas) para suportar aquilo que o está deixando frágil a ponto de se sentir incapaz de cuidar de si, ou de ter algum prazer na vida", frisa a psicóloga.

A psicoterapia, diz Silvana, auxilia na busca de mecanismos de defesa para que a pessoa reconstrua suas possibilidades e potencialidades para contornar as dificuldades, a fim de aprender a lidar com frustrações, traumas e sentimentos de incapacidade e que possa descobrir novas possibilidades. É sempre necessário avaliar se haverá necessidade, ou não de uso de medicações.

 

A pandemia e os riscos de suicídio

Embora ainda não haja divulgação de dados oficiais sobre os índices de suicídio neste período de pandemia por causa do coronavírus, Silvana afirma que, especula-se, tenha havido um aumento. As pessoas em geral, continua, têm referido sentimentos de desamparo e desesperança. "Muitas pessoas perderam seus empregos e negócios. Houve aumento dos custos de vida, aliados a perdas financeiras. Há muitas pessoas perdendo familiares queridos. Todos esses fatores são considerados e risco que levam ao suicídio", comenta.

E quando falamos em prevenção ao suicídio e ajuda, lembramos aqui um serviço essencial, muito especial e que há anos tem ajudado muitas pessoas quando se trata de uma questão fundamental: escutar. O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos e com o objetivo de prestar apoio emocional via telefone e internet 24 horas por dia. Conversamos com o coordenador da Comissão de Divulgação do CVV de Novo Hamburgo (RS), Nicolau Isaaca de Araújo. Em Novo Hamburgo, o posto CVV funciona desde 2003.

Ele explica que para entrar em contato, a pessoa pode ligar no 188, enviar email, chat ou via Skype. Por causa da pandemia, o atendimento presencial está temporariamente suspenso. O atendimento é feito por voluntários, maiores de 18 anos, que dedicam 4 horas por semana ao CVV. O papel do CVV é ouvir a pessoa, sem julgamento ou aconselhamento. Nesses casos, se a pessoa está em risco, o voluntário pode solicitar a ela se necessita de alguma ajuda mais específica. Depende de cada caso o voluntário sempre tenta auxiliar, de acordo com Araújo.

Qualquer um pode solicitar atendimento e as circunstâncias em que o serviço é procurado variam bastante, segundo Araújo. “Desde um desabafo, a necessidade de um momento de conversa por causa de solidão, ou até mesmo para dividir uma conquista ou alegria. O CVV tem a finalidade de prestar aopio emocional, conversando atenciosamente com as pessoas que nos procuram, e precisam desabafar. E importante que a pessoa faça contato, pois é uma forma dela se sentir ouvida, muitas vezes o que falta é alguém para ouvir essa pessoa.”, diz o coordenador. Como o atendimento é sigiloso, não há um registro oficial para fazer levantamento de dados. Também não é possível apontar faixas etárias, pois não são solicitadas informações pessoais.

Segundo Araújo, de 10 pessoas que pensam em cometer suicídio, nove enviam sinais. Usam frases do tipo: “A vida não tem mais sentido”, “eu não presto para nada”. Há, de acordo com ele, mudança de comportamento, isolamento, como Silvana afirma acima também. A depressão e outras doenças mentais, continua ele, uso de drogas, podem levar ao suicídio. “As drogas e álcool em excesso fazem a pessoa perder a noção da realidade e tentarem tirar a própria vida”, reitera Araújo.

Araújo afirma que o Setembro Amarelo remete a esta cor, além de representar a atenção, como no semáforo, também por que remete à cor do sol, da vida. “Essa data significa para o CVV a essência do nosso trabalho, que é a valorização da vida, prevenindo o suicídio”, reforça, ao comemorar o fato de que, hoje, a campanha já tem a adesão de vários setores da sociedade e órgãos públicos e privados.