SE A PAZ É MEU MUNDO, O QUE DIRÁ À GUERRA?

Ninguém tem a capacidade de nos proporcionar paz além de nós mesmos. E se formos plenos a ponto de saber o que realmente é importante para nós e o que não queremos fazer, já estamos a muitos passos adiante em encontrar a si e alguém

Por César Silva*

Qual delas? A de beleza? A de mísseis? A de família? A da sobrevivência? A que guerra estamos nos referindo? Na ponta da língua e com argumentos!

Cássia era uma paz só! Sempre que a perguntavam sobre a guerra ela respondia com as perguntas acima. Não aceitava que o mundo estava tresloucado a ponto de que sua paz fosse afetada.

Desde criança diziam que ela era zen. Não se incomodava com nada, tinha ótimos relacionamentos e não queria perder tempo com assuntos que não agregavam nada a sua vida. Era prática e tinha uma visão muito madura do mundo.

Apesar de uma tragédia, em que perdera seus pais em um acidente de carro, aquela mulher não se afetava com quase nada. Ela pensava: se perdi o que mais importava para mim, o que pensar do que não tem valor?

Ela conseguiu surpreender toda a sua família! Com a morte prematura de seus pais ela fora morar com sua tia. Era uma mulher independente e que não gostava de coitadismo. Num primeiro momento foi uma lição muito dura a ela, mas depois, com seu jeito zen, ela tirou de letra. Costumava guardar para si suas conclusões e não deixava de aprender em nenhuma circunstância.

Adorava refletir sobre todos os assuntos e sempre tinha seu tempo para si mesma. Mas uma questão começou a rondar sua mente: ela queria se apaixonar perdidamente, profundamente e sem restrições!

No fundo do seu coração ela sabia que haveria hora em que o felizardo apareceria. Ela frequentava vários lugares alternativos, no alto de seus 25 anos! Aquela pulguinha do amor queria picá-la! Ela sabia que não dependia de ninguém para viver, nunca aceitaria isso, mas sabia que queria expandir suas possibilidades ao máximo.

Em uma noite chuvosa de sábado ela e sua tia estavam em casa e o assunto começou a rolar. A tia, experiente e sábia, logo perguntou: o que mais lhe chama atenção em um homem?

- Olha! Acho que é bem simples para mim: me aceitar como sou e me amar por isso!

A tia a olhou calmamente e não respondeu nada! Silêncio! Uma lágrima desceu naqueles olhos experientes. As lembranças tomaram aquele coração de uma maneira saudosa e não rancorosa. É como se ela soubesse que fez a escolha certa mas que não foi acompanhada!

Cássia se emocionou! Foi tão espontânea a sua resposta que ela não pensou que ira afetar sua tia, tão forte, tão certa de si. A tia comoçou a falar:

- Sabe filha, assim eu lhe chamo pois assim que me sinto, também pensava como você. Essa resposta foi como água cristalina aos meus ouvidos. Mas preciso lhe dizer: é uma escolha muito difícil essa nossa!

- Encontrei o amor da minha vida há 20 anos atrás. Éramos jovens  e nos apaixonamos. Vivemos um amor profundo, intenso e audaz. Mas brigávamos muito! Estávamos mais preocupados em mudar um ao outro do que conviver um com o outro. Nos desgastamos muito!

- Ainda o amo! E sei que ele também! Mas, infelizmente, nosso tempo passou! Nossos gênios foram mais fortes do que nossa perseverança. Saímos algumas vezes ainda, de forma fugaz, mas sem aprofundar, pois não queremos brigar. E nos acomodamos a esse amor diferente, apesar de nossa incapacidade em mudar o que realmente precisava ser mudado.

Cássia ficou impressionada! Abraçou a sua tia e choraram juntas durante muito tempo! E a lição foi aprendida por ela: mudar o que precisa para viver um amor que se quer! Enfatizar no que realmente é importante e o resto, vem com o tempo!

Aquela sinceridade de sua tia aliada a capacidade de perceber que não conseguia mudar, apesar do amor que sentia, era um caminho que Cássia decidiu não trilhar! Ao mesmo tempo, ela também sabia que queria ser amada por sua essência e amar alguém com essa compreensão.

O tempo foi passando, as escolhas escasseando e Cássia decidiu que não iria mais se esforçar em procurar alguém. E ela se perguntou: será que é possível viver um amor desses hoje em dia?

Certamente é uma pergunta que muitos se fazem e poucos se abrem a oportunidades fora de um conjunto de pressupostos necessários ou básicos. Mas aquela paz de Cássia fez ela perceber que a vida se encarrega de muitas coisas, desde que façamos o nosso papel.

Em assuntos do coração não há razão que sustente uma paz existencial inexistente!

A mesma paz que fez com que ela decidisse emocionalmente e conscientemente o que queria para si, possibilitou que ela, humildemente, sabia que somente o essencial importava e que o restante era simples artefato de exposição.

Aqueles que vivem de exterioridades certamente dirão que Cássia é exagerada e que não entende o mundo. Aqueles que valorizam os aspectos íntimos e profundos da alma humana, a entenderão e estarão em paz com a escolha dela. É dela!

Mas a grande questão é que ninguém tem a capacidade de nos proporcionar paz além de nós mesmos. E se formos plenos a ponto de saber o que realmente é importante para nós e o que não queremos fazer, já estamos a muitos passos adiante em encontrar a si e alguém que perceba essa escolha!

César Silva é Mentor de Negócios, Consultor, Professor, Palestrante e Escritor - CEO @cesarsilvasimplesmente