SALA DA TEACHER DAIA | Os nossos achados e perdidos

Os pais precisam olhar para os achados e perdidos da escola todos os dias, mostrando que estão atentos ao que pertence aos seus filhos

Por Daiana Souza*

Eu perco coisas o tempo todo, dentro e fora de casa. Chaves, livros, fones de ouvido... ainda mais quando eu preciso usar em um determinado momento, eu não acho. Frio na barriga me dá se preciso ir a algum lugar que tem aqueles prédios enormes de estacionamento, com milhares de vagas, pois certamente não lembrarei onde terei estacionado o carro. Como tenho muitas coisas na cabeça o tempo todo, selecionar as informações às quais preciso prestar atenção pode dar um pouco de trabalho.


Então relevo, não me culpo (tanto) e procuro manter hábitos para me ajudar na minha rotina: (re) colocar objetos sempre no mesmo lugar, organizar a casa um pouquinho a cada dia e principalmente, ter menos coisas dentro de casa. É mais fácil achar algo que você perdeu no meio de poucos objetos. Quanto mais eu descarto coisas e guardo apenas o essencial em armários, gavetas e estantes, mais leveza eu consigo trazer para o meu dia a dia.

Claro que ainda abro aquela gaveta misteriosa, absolutamente entulhada de tudo e de todos, respiro fundo e digo para mim mesma: depois eu arrumo essa aqui. Mas o depois sempre fica para outro dia. E “quem nunca”?

Minha relação com o acúmulo de coisas muda o tempo todo, principalmente à medida em que leio sobre o assunto e reflito no impacto da acumulação em nossa vida. Mas algo nas escolas tem me chamado muito a atenção relacionado ao acúmulo: as caixas de achados e perdidos. Geralmente são de papelão ou plástico, abarrotadas de moletons, calças, bonés e acessórios escolares. Sempre que passo perto de uma caixa dessas os mesmos objetos continuam lá dentro, como se ninguém notasse. Volta e meia a caixa aparece mais cheia, com mais roupas aparentemente sem dono.

Ao longo de seu processo de desenvolvimento, as crianças aprendem a se organizar: arrumam suas mochilas, guardam objetos nas lancheiras, se vestem sozinhas... mas ainda é um processo longe de ser finalizado. Ao perder algo, nem sempre elas se dão conta. Por isso não podemos esperar - e nem cobrar - das crianças a excelência em organização. Mas dos adultos, sim. Será que estamos olhando com atenção para o que tem - ou que falta - na mochila dos nossos filhos? Ou será que deixamos passar batido o fato de que meu filho foi com um casaco para a escola, mas voltou sem ele? E se não estamos atentos a isso, por que não cuidamos das coisas que pertencem aos nossos filhos? Na minha cabeça não faz sentido nenhum que aquele casaco perdido fique na caixa por dias, semanas ou até meses.

Essa atitude mostra para nossos filhos que não damos importância aos objetos e nem cuidamos deles, pois tudo é descartável, fácil de comprar. Fácil? Em um país de inflação quase galopante, em que o litro de leite quase custa R$ 10,00, precisamos cuidar de nossas coisas para que elas durem mais. E precisamos ensinar isso às crianças. Um moletom perdido precisa voltar para casa; um boné precisa ficar dentro do quarto, e não perdido naquela caixa triste de papelão. Os pais precisam olhar para os achados e perdidos da escola todos os dias, mostrando que estão atentos ao que pertence aos seus filhos. E principalmente, passando a seguinte mensagem: vamos cuidar do que temos. Das roupas, das pessoas, do planeta, de tudo que faz parte de nossa vida.

*Publicitária e professora de inglês. Daiana Souza escreve quinzenalmente neste espaço. Tem alguma dúvida, comentário ou sugestão a respeito do tema? Utilize os espaços abaixo para comentários