POR QUE A MESMA DIETA FUNCIONA PARA UMA PESSOA E PARA OUTRA NÃO?

Nutricionista explica como a alimentação interfere na atividade dos genes e vice-versa

Pode ser que você conheça alguém que esteja, ou mesmo que você faça parte, dos 23% dos brasileiros que viram os números aumentarem na balança durante a quarentena. E também pode estar incluído naquele grupo que pede a dieta de um conhecido para tentar reverter o quadro. Pare, você está fazendo isso errado!

Usar a dieta feita para outra pessoa não vai adiantar, pois cada organismo, diante de uma característica imposta pelo DNA, responde diferente a alguns nutrientes. O fenômeno se chama nutrigenômica, um campo da ciência dos alimentos, difundido nos últimos anos por recomendar menus personalizados, elaborados a partir do que manda o código genético.

Quem explica é o nutricionista e professor doutor em Biologia Funcional e Molecular Willian Régis. Para ele, o que existe de mais promissor nesta área, que vai muito além da questão do emagrecimento, é a capacidade de usá-la na prevenção de doenças metabólicas e crônicas, como câncer, diabetes e obesidade. "Via de mão dupla, a nutrigenômica é uma ponte entre a genética e a alimentação. Tanto que o que consumimos pode interferir na atividade dos genes e eles também podem indicar quais nutrientes devemos ingerir e quais não", explica o nutricionista. 

Ele usa como exemplo o alerta de mais de 2 mil anos do pai da medicina, Hipócrates: "deixa teu alimento ser teu remédio". Para o médico, o conselho faz todo o sentido quando aplicado à nutrigenônica, já que os alimentos passaram a ser receitados por nutricionistas da mesma maneira que os médicos prescrevem medicamentos para dor de cabeça. 

Essa descoberta chegou após a conclusão do projeto Genoma Humano, no ano de 2003, quando duas pessoas, diferentes fisicamente compartilham 99% do DNA. Mas, as diferenças, de acordo com Régis, embora pequenas, são capazes de determinar, por exemplo se existe risco de desenvolver intolerância a lactose. "Caso o mapa genético aponte algum defeito, a dieta dever ser preparada para minimizar esse defeito. A ideia da nutrigenômica é melhorar a qualidade da vida das pessoas que possuem alguma deficiência no DNA e que podem ser regularizadas com os alimentos", afirma Régis.

Para o nutricionista, as pessoas precisam parar com a tendência de padronizar dietas apenas considerando o número de calorias, pois os genes podem estar necessitando de nutrientes de uma forma diferente, como, por exemplo, existem aquelas que precisam consumir mais gorduras e outras mais proteínas.  

Prática 

Você, que está buscando perder os quilos extras que ganhou na quarentena e decidiu, depois de muito pesquisar, procurar um profissional que trabalhe com nutrigenômica, precisa saber que não receberá a dieta na primeira consulta. 

"O ponto inicial é uma consulta com mais de uma hora de duração para que nós, nutricionistas, possamos analisar os hábitos alimentares, estilo de vida e histórico familiar do paciente. É, literalmente, uma conversa", comenta o nutricionista. 

Após a primeira conversa, o especialista deve solicitar exames genéticos com foco nas doenças às quais o paciente tem predisposição.  Com base nos resultados, ele pode preparar um aconselhamento dietético personalizado. 

Além da alimentação, a nutrigenômica também pode ser direcionada à estética. "É possível identificar se existe pré-disposição para celulites e estrias ao mapear o DNA humano e, também, trabalhar aqueles casos em que a pessoa treina muito, mas perde pouco peso", finaliza Wilian Régis.