O ADOLESCENTE E A CONSTRUÇÃO DE SUA AUTOIMAGEM: QUESTÕES DA ATUALIDADE, PERMEADAS PELA PANDEMIA

Como lidar com nossos adolescentes, hoje mais do que nunca, facilmente influenciados por um cenário globalizado proporcionado pela tecnologia

Por Fernanda Brandenburger*

Vivemos em um mundo, onde o consumo, a instantaneidade e a busca pela otimização de resultados imediatos, imperam. Em meio a uma pandemia esta realidade, então, ganha contornos singulares. A fantástica ferramenta da tecnologia, agora essencial para nos mantermos conectados, trabalhando e estudando, coloca uma lupa nestas questões.

Hoje, o universo está em nossa tela, a um toque, em nossas mãos. Aprendemos a ficar diante das telas, são as imagens que nos capturam. Usamos emojis. São imagens e não palavras que nos representam. A tela pode nos apresentar espetáculos, cenários que seduzem, que respondem a angústias e incertezas, que nos captam em nossa fragilidade e ânsia por querer tudo alcançar. E, são nossos filhos que ficam mais tempo absorvidos por todas essas imagens que vendem a felicidade absoluta.

Precisamos pensar em nosso adolescente, que é facilmente influenciado por esse cenário globalizado, proporcionado pela tecnologia. Isto acontece em razão de o adolescente estar vivendo um momento de crise, que faz parte do ciclo vital, marcada por intensas transformações biológicas, psíquicas e sociais, geradas pelas modificações físicas da puberdade e que criam um sentimento de estranheza em relação a si mesmo e ao outro. Ele precisa enfrentar e resolver, isto é, elaborar a perda pelo corpo infantil, o luto pela perda dos pais da infância e o luto pela identidade infantil.

A aquisição da autonomia em relação aos pais é uma das tarefas essenciais para a definição de sua identidade pessoal. Desse modo ocorre um alargamento do mundo social, com direcionamento para o grupo de iguais/pares. Os amigos passam a se compreender melhor, formando relações mais recíprocas e íntimas. A amizade ganha em intensidade e estabilidade, passando a ser um contexto de socialização muito influente para o adolescente, sendo também, continente de suas ansiedades.  Mas, o relacionamento com os pais continua sendo fonte de segurança e referência.

É esperado que o adolescente faça movimentos de “recolhimento em seu quarto”, representando seu espaço psíquico. Em tempos de pandemia, de virtualidade intensa, essa busca por identificações entre os iguais é invadida pela presença de imagens e “selfies”. Desconhecendo seu corpo, que não é mais de criança e está se transformando, questiona e investiga sobre contornos, limites corpóreos que é oferecido pelo mundo adulto, social. Cenário de excessos, como já vimos.

Além disso, apresenta uma grande necessidade de reconhecimento através do olhar do outro. Este outro pode ser esta tela. “Tela que promete” que, para ser aceito, reconhecido e amado pelo outro existe um modelo ideal, perfeito, que só este modelo garantiria o reconhecimento como um ser que marca sua existência na sociedade.

Nessa nova realidade, que a pandemia impõe, é essencial para este jovem sentir-se pertencendo a seu grupo familiar, reconhecido e respeitado, neste momento de transição. Os pais precisam fazer um movimento de despedida da criança que cresce e ponderar sobre todas estas questões para tentar proporcionar um equilíbrio entre os cuidados que a pandemia pede e as necessidades das relações ampliadas, que seu filho adolescente necessita.

É preciso abrir espaço para reflexão sobre o imediatismo, o consumismo, apresentados pela publicidade midiática que determina modelos como garantia para inclusão e afirmação de identidade para pertencer a uma cultura. É indispensável o diálogo para que estes ídolos virtuais não “preencham” todos os espaços de inquietações dos adolescentes, que vivem uma”turbulência” de sentimentos e mudanças na construção de sua própria identidade.         

*Psicóloga Clínica e docente do Instituto de Psicologia de Novo Hamburgo,

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