MÃE SEM LIMITE: A adolescência é uma espécie de luto

Na adolescência é preciso ressignificar o nosso papel de mãe, de pai. Nos mudar para outro lugar, que continua sendo de crucial importância, mas agora com uma via de mão dupla

Por Lola Carvalho*

Se você tem um filho pré-adolescente em casa, com toda a certeza vai me entender. Se ainda não tem, este relato pode lhe te ajudar a estar mais preparada para o dia em que este momento chegar. E eu posso garantir, vai chegar mais rápido do que você imagina.

Sou mãe de um menino de doze. Na minha cabeça, ele seria o ‘meu menino’ para sempre. Apaixonado por mim, me enxergando como a sua pessoa preferida, como a sua princesa.

Para mim, ele sempre caminharia comigo de mãos dadas pela escola, todo orgulhoso e me contaria tudo: como foi seu dia, quem correu mais rápido no pátio, quem brigou, quem levou bronca da professora, quantos gols ele fez, quem são seus melhores amigos, de quem ele gosta.

Na minha fantasia – quase adolescente – de mãe, ele sempre me acharia a mais linda, a mais poderosa, a mais divertida, a que faz as melhores comidas. Buscaria minha mão na hora de dormir e meu olhar, quando se sentisse inseguro.

Eu sempre ocuparia este lugar de protagonista na vida dele. Eu sempre seria a dona do campinho. Mas já faz um tempo que tenho me dado conta de que perdi meu trono. Passei de princesa à bruxa má. Virei uma chata. Uma reclamona. Eu não entendo nada. Eu não sei de nada. Usando um xingamento atual e chique: estou totalmente desaplaudida.

A chegada da adolescência é uma espécie de luto. O adolescente está se despedindo do corpo infantil, dos seus antigos interesses, da sua forma de ver o mundo. Mas principalmente, ele se despede dos seus pais da infância, daqueles pais idealizados, que eram seus melhores amigos.

Os pais, por sua vez, se despedem do filho criança. Daquele filho doce, que quase sempre obedecia, que fazia tudo sem questionar muito, que não tinha vergonha de demonstrar amor, que sempre tinha tempo para eles.

O lugar de melhores amigos passa a ser ocupado pelos – veja bem – melhores amigos do adolescente e o mundo dele passa a ser o seu quarto, uma zona neutra, onde ele pode enfim, lidar com todas estas transformações sem a interferência dos pais.

A bagunça do quarto, que rende tantas broncas, é o reflexo da sua bagunça interna. E por isso, fica tão difícil se aproximar. Adolescentes buscam por seus iguais. Precisam se encaixar, pertencer a um grupo. Nesta fase, os amigos são o ponto de apoio. Estão na mesma fase, têm os mesmos assuntos, sentem igual. É muito mais fácil dialogar com eles. Os pais são old school. Estão ultrapassados. Já eram!

E não adianta usar memes da moda e tentar fazer a mãe "modernex", que não vai colar. A abordagem tem que ser outra. É um exercício diário de puxar e soltar. Dar espaço para a introspecção do quarto, mas trazer de volta para a sala, de vez em quando. Se aproximar e se afastar. Perguntar e fazer de conta que não tem tanto interesse assim.

Mas o mais importante, na adolescência é preciso ressignificar o nosso papel de mãe, de pai. Nos mudar para outro lugar, que continua sendo de crucial importância, mas agora com uma via de mão dupla. Talvez a última palavra não seja mais a sua. Talvez todos aqueles valores e regras e normas que você ensinou para o seu filho, vão ser fortemente questionados.

Mas uma coisa é certa: não importa o que aconteça, não importa o quanto ele mude, o seu amor não vai mudar e você sempre vai estar lá para ele. E ele sabe disso. E é isso que fará com que ele passe por todas estas transformações com mais confiança e possa ir para a próxima fase, sabendo que sempre poderá voltar.

*Lola Carvalho é publicitária, jornalista e mãe de dois. Sempre foi apaixonada pelas palavras e pela música. É gaúcha de São Sebastião do Caí, mas aos onze anos mudou-se para Novo Hamburgo. Com o nascimento do primogênito, Francisco, em 2009, viveu a maior transformação da sua vida. A maternidade trouxe à tona sentimentos novos e singulares. Tudo isso foi sendo registrado em textos escritos pela publicitária que encontrou nas palavras uma forma de externar seus medos, frustrações, desafios e falar do amor que crescia dia após dia.Com a chegada do Caetano, seu segundo filho, a maternidade se revelou em novas páginas, que foram reunidas em seu livro de estreia Mãe Sem Limite: um livro de crônicas que trata sobre as aventuras e desafios de ser mãe. Site: lola carvalho.com.br

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