JANEIRO BRANCO: O MÊS PARA CUIDAR DA SAÚDE MENTAL

Psiquiatra alerta sobre sinais de transtornos mentais e sinaliza ações de prevenção e tratamento

O começo do ano costuma ser aquele momento de planos, de traçar metas e definir objetivos. É um período de otimismo e de esperança. Mas, também pode ser complicado para algumas pessoas, gerando ansiedade, tristeza e medo com consequências consideráveis para a saúde mental. E precisamos olhar para isso com mais atenção. É por isso que o primeiro mês do ano foi escolhido como Janeiro Branco, data que tem origem no movimento de psicólogos, em 2014, na cidade de Uberlândia (MG) para conscientizar a população sobre a proteção da Saúde Mental. Para aprofundar mais o assunto, e fazer alertas importantes, conversamos com a psiquiatra Letícia Teixeira*, ela fala sobre sintomas, prevenção e tratamento de problemas que podem afetar a saúde mental.

De acordo com ela, os transtornos em saúde mental mais prevalentes são os que envolvem ansiedade e depressão. “Estima-se que antes da pandemia do coronavírus, 284 milhões de pessoas em todo o mundo sofriam com algum tipo de transtorno de ansiedade, com uma taxa de prevalência nos países que varia de 2% a 7% da população”, diz a médica, com base no estudo Global Burden for Disease que envolveu mais de 3 mil pesquisadores em 145 países, coordenado pela Universidade de Washington. “Já a depressão, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), pode atingir mais de 300 milhões de pessoas no planeta”, diz Letícia, ao ressaltar que a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo. E estes dados, segundo Leticia, refletem também entre os brasileiros.

E como não poderia deixar de ser, a pandemia só intensificou esses cenários, tem sido assim há dois anos. A prevalência da ansiedade é quatro vezes maior agora, chegando a 15,5% da população contra 3,6% antes da pandemia do coronavírus, segundo a OMS. “Na prática clínica observamos um aumento de pacientes que buscam auxílio na elaboração do luto, todo luto é devastador, mas diversos fatores contribuem para uma digestão ainda mais difícil em um período pandêmico. Destaco entre esses fatores a impossibilidade de despedida, e não raro a multiplicidade de perdas, pessoas perderam dois ou mais familiares ou amigos em curto período de tempo devido à covid-19”, ressalta a psiquiatra.

OS SINAIS

Os transtornos como depressão e ansiedade dão sinais que não podem ser desprezados, merecem atenção e indicam a necessidade de ajuda. Leticia aponta este sinais: tristeza e choro sem motivo aparente, diminuição de energia, ou seja, a sensação de muito esforço para dar conta de de tarefas que antes não exigiam esse esforço, tendência ao isolamento social, sentimento de culpa excessiva, diminuição significativa ou ausência de prazer em atividades antes prazerosas, alterações de sono que podem ser insônia ou sono excessivo, alterações de apetite sem outra causa que justifique, coração acelerado, suor freqüente nas mãos e pés, pensamento acelerado, preocupações excessivas, entre outros.

“Esses sintomas podem variar muito em sua frequência e intensidade, é importante buscar ajuda de um profissional quando além da presença de um ou mais sintomas, o indivíduo perceba prejuízo na sua funcionalidade seja em sua vida afetiva, social ou laboral”, alerta.

É PRECISO DERRUBAR O PRECONCEITO COM SAÚDE MENTAL

Diante da necessidade de busca de ajuda e apoio para garantir a qualidade da saúde mental, ainda é preciso lutar contra uma barreira silenciosa: o preconceito. Trata-se de uma questão que tem origem no período em que as pessoas com transtornos mentais eram segregadas da sociedade. “Ainda hoje, muitas vezes pessoas com transtornos mentais são retratadas de forma caricata em filmes ou telenovelas, que inevitavelmente reforçam esse estigma”, diz a médica.

Além disso, há o preconceito, ou a resistência, em relação ao uso de medicamentos para tratar transtornos mentais. De acordo com Leticia, é possível que isso se explique diante do medo da dependência dessas medicações. No entanto, salienta, esses medos são decorrentes da desinformação. “Uma vez que são uma minoria de medicamentos que causam dependência, e apenas se usados de forma incorreta, quando indicados por psiquiatra há uma série de cuidados que são tomados para que isso não ocorra”, completa.

Mas, garante, o objetivo do tratamento com psicofármacos, em sua imensa maioria, é justamente trazer a pessoa de volta a como ela se sentia antes de adoecer, portanto, segundo Leticia, se através da medicação a pessoa se sente anestesiada emocionalmente, por exemplo, ajustes devem ser feitos para que se encontre uma dose ou medicação em que a pessoa se sinta melhor sem esse efeito adverso.

Ainda sobre os efeitos adversos, ela diz que a imensa maioria é transitória e cessa, seja com a adaptação do organismo com a substância, ou em casos de não adaptação, os efeitos adversos desaparecem quando a medicação é suspensa. “Cabe ressaltar que o uso de medicamentos muitas vezes não é a única possibilidade de tratamento, em um caso de depressão leve por exemplo, o tratamento pode ser desde psicoterapia até a prática de atividade física”, alerta.

Diante disso, é normal se perguntar: onde está e como encontrar o equilíbrio? Leticia diz que a busca do equilíbrio, assim como da plenitude (palavra que ouve muito no consultório) lhe parecem um tanto utópicas e buscar algo inatingível gera ainda mais insatisfação e frustração. Ela afirma acreditar em estratégias, cuidados que possam contribuir para promoção e proteção da saúde mental, entre elas destaca: políticas públicas para saúde mental, vínculos sociais profundos, prática regular de atividade física, atividades de hobbie e ou atividades prazerosas, autonomia mental, condições sociais dignas, busca de autoconhecimento.

*Para contatar a psiquiatra Leticia Teixeira, use o email leticiatex@gmail.com