DOENÇA CELÍACA: NO MAIO VERDE UM CONVITE MAIOR À REFLEXÃO

Doença autoimune, que se caracteriza por inflamação causada pelo glúten, a doença celíaca requer tratamento relativamente simples e pode levar a graves consequências, como o câncer, se for ignorada

Algumas doenças surpreendem ainda mais que outras e quando são diagnosticadas levam a uma série de questionamentos, ainda mais que o comum. Foi o que aconteceu com a nutricionista Michele Blankehneim que, aos 33 anos, descobriu-se com a Doença Celíaca sem jamais ter tido sinais do problema.

“Eu descobri que era celíaca ano passado e, mesmo sendo profissional da nutrição, tive muita dificuldade de compreender o manejo da doença, mas o que mais me preocupa é que apenas 10% dos celíacos são diagnosticados,por isso, penso que é um assunto importante a ser abordado”, afirma Michele. Para saber mais sobre a doença e como ela é diagnosticada e tratada, conversamos com a médica gastroenterologista Natália Feilstrecker, que explica questões importantes sobre esta doença que ganha atenção especial no chamado Maio Verde. É importante salientar que, ao menor sinal de desconforto, principalmente após a ingestão de alimentos, um médico deve ser procurado. No caso da doença celíaca, os pacientes podem apresentar diversos sintomas. Alguns podem ser assintomáticos, mas os sinais típicos são: diarreia crônica, distensão abdominal e perda de peso. Mas pode haver ainda dermatite herpetiforme, anemia, aftas, osteopenia e osteoporose, abortos espontâneos de repetição, menarca tardia, menopausa precoce, baixa estatura, enxaqueca, fadiga, deficiências nutricionais, sintomas neurológicos, entre outros.


De acordo com a médica, a doença celíaca é uma doença auto-imune, ou seja, as nossas próprias células de defesa agridem as células do nosso organismo, causando uma inflamação. Esta inflamação, neste caso, é causada pelo glúten, proteína presente no trigo, cevada e centeio. Essa inflamação, continua, ocorre nas paredes internas do intestino delgado, causando atrofia das vilosidades intestinais e causando diminuição da absorção dos nutrientes.

O diagnóstico é feito pelos sintomas, exames de sangue (sorologias para doença celíaca), biópsia de duodeno (realizada por endoscopia digestiva alta ) e pesquisa genética. Importante lembrar que, para a realização dos exames, o paciente deve estar fazendo dieta com glúten, diariamente.

A médica lembra que a doença celíaca pode afetar qualquer pessoa. Mas, os familiares de primeiro e segundo grau de celíacos, pacientes com diabetes tipo 1, tireoidite autoimune, síndromes de Down e Turner são mais propensos.

“Eu tenho diabetes tipo 1 que é uma doença autoimune, por isso eu tinha uma probabilidade maior de desenvolver outras doenças autoimunes, entre elas a doença celíaca. Meu médico solicitou exame para rastreamento por eu ser grupo de risco, apesar de eu não ter nenhum sintoma, e os exames deram alterações. Para confirmar, foi feito endoscopia com biópsia. Só após a confirmação iniciei a dieta sem glúten. O tratamento é totalmente alimentar e é exclusão total do glúten, não podendo ter nenhum resíduo na alimentação”, diz Michele.

Assim, de acordo com Natália, o tratamento consiste na retirada de todos os alimentos que contenham glúten, como aconteceu com Michele. “Temos que atentar, também, para a contaminação cruzada, que ocorre quando partículas de glúten contaminam alimentos, utensílios ou superfícies originalmente isentos da presença desta proteína. A contaminação cruzada pode ocorrer desde o plantio ao cozimento e manuseio dos ingredientes. Sempre que uma pessoa recebe diagnóstico de doença celíaca, deve ser referenciada para nutricionista, a fim de ter uma correta orientação ao seu tratamento.

Ao ser diagnosticado com a doença celíaca o paciente não pode, em hipótese alguma, ignorar as providências a serem tomadas junto com o médico, nem ignorar as possibilidades de complicações que incluem doença refratária e linfomas intestinais. “Os linfomas geralmente se manifestam depois de 20-40 anos de doença. Também podemos observar outros tipos de cânceres do trato gastrointestinal: carcinoma de esôfago ou de orofaringe, adenocarcinoma do intestino delgado, câncer colorretal e de fígado completa Natália. Ainda, de acordo com ela, já observou-se também que estes pacientes correm um risco maior de morte por doenças cardiovasculares e respiratórias, provavelmente pelo caráter inflamatório da doença.