DISCUTIMOS POR PRAZER OU POSSE? O OBJETIVO É ÚTIL?

O que um copo d´água tem a ver com a conquista do equilíbrio em uma relação? Descubra na coluna desta semana do professor e escritor César Silva

Por César Silva*

Respondendo ao título: Nem sempre! Somos altamente eficientes em perder tempo com o que não agrega nada à nossa vida! Se tivéssemos um assistente de inteligência artificial que tocasse um apito altíssimo cada vez que detectasse um momento desse durante nossa vida, acredito que estragaria rapidinho!

O copo d´água é um exemplo bem interessante! Quem não tem um copo de água brigão em casa? O poder dele vai além da sua simplicidade e chega a ser engraçado.

Um casal era conhecido na vizinhança por protagonizar brigas enormes e berros estridentes que faziam todos tremer de medo. Em época de Maria da Penha, certamente isso não aconteceria. Mas acontece! E muito! O som é abafado, o que não ajuda em nada na resolução dos problemas domésticos.

Esse casal recebeu a visita cordial de um policial, no meio de uma briga. A vizinhança estava alvoroçada, doida para ver alguém ser preso ou algum estampido acontecer, já que tinham finalmente chamado as autoridades. O policial bateu a porta e entrou. O silêncio era aterrador! Ninguém entendia o que estava acontecendo!

Passados 15 minutos o policial sai calmamente, sem alarde, entra em sua viatura e vai embora. A tarde ficou tranquila! Aqueles berros e brigas repetidas tinham cessado! Mas uma vizinha que era muito observadora, ou fofoqueira, como queiram, percebeu que no final daquele dia, pela primeira vez, um entregador de água em bombonas se fazia presente naquela casa.

A vizinha ficou com a "pulga atrás da orelha"! Começou a observar aquela modificação de comportamento durante dias, já que as brigas tinham diminuído, mas a água tinha aumentado. Três vezes por semana ele entregava galões de 20 litros. Ela pensou: alguém está afogando alguém ou está doente. Para que tanta água?

Um mês depois, com a vigilância em janela, ela viu o casal saindo de mãos dadas em direção ao parque, novamente, pela primeira vez. Ela estava intrigada! Eles passavam todo tempo brigando! Depois da vinda do policial eles pararam de brigar e compravam mais água do que precisavam? E mais, eles saíram de mãos dadas como dois pombinhos! Como poderia acontecer isso? Não é possível!

Como toda curiosa inveterada ela se atreveu. Sabia o horário que saíam para o parque, semanalmente, e resolveu observar o que estava acontecendo, ao vivo e bem de perto.

Para sua surpresa eles sentavam no parque e passavam o tempo inteiro fazendo carinho um no outro e sorrindo, como se a vida fosse um mar de rosas e aquele passado próximo nunca tivesse existido!

Ela não ia deixar passar e foi chegando cada vez mais perto. Foi reconhecida por eles! Eles a cumprimentaram com todo carinho e lascaram uma pergunta: tudo mais calmo agora vizinha? Desculpe por importunarmos por tanto tempo a vida de vocês! Nunca mais acontecerá! Ficamos felizes que a senhora nos cumprimentou, pois acreditávamos que ninguém na vizinhança faria!

Ela ficou sem palavras, agradeceu e saiu em direção a sua residência. Mas, já no caminho, parou e pensou: preciso perguntar! Preciso perguntar! Ah!! Ela voltou! Chegou perto deles e lascou:

- O que foi que aconteceu para mudar tão drasticamente a relação de vocês? O que aquele policial fez?

Os dois se olharam e deram um sorriso maroto e responderam:

- Foi a água!

Ela acreditava que eles estavam brincando e disse:

- A água, como assim?

- Sugiro que a senhora ligue para aquele policial, temos o número aqui! Ele nos fez prometer que não contaríamos! A senhora quer o telefone?

Sem entender novamente a situação mas com a curiosidade à flor da pele ela aceitou o telefone daquele sábio policial. Lógico que ela ligou e pediu que viesse à sua residência! Ele prometeu que iria após o trabalho, já que não era nenhuma emergência.

No final do dia ele apareceu! Conversaram durante 15 minutos e ele saiu com um sorriso no rosto e um sentimento de missão cumprida! O mais interessante é que aquele vizinha, depois daquele dia, parou de fuxicar na vida dos outros e começou a estudar e se desenvolver nos períodos vagos. Até o casal ex-brigão percebeu!

Está curioso(a)? Pois é! Quem não estaria! A questão é mais simples do que parece! Precisamos resolver nossos problemas primeiro ao invés de nos meter na vida dos outros! Em realidade, o que parece de grande importância para uns não é para os outros.

Poucos de nós focamos no que realmente é importante na vida e se aprimora! Somos observadores dos outros e não paramos para analisar nossa vida a fundo e resolver as questões de ordem. Nem todos temos um policial sábio ao nosso lado mas temos nossa consciência. Ela berra! Ela avisa! Escute!

Reanalise suas prioridades e pelo menos faça uma lista daquilo que você não quer mais presente em sua vida! E se conseguir, faça outra lista do que realmente lhe faz aproveitar bem o seu tempo e tome a "rédea" de suas decisões.

Respostas à curiosidade, já que é útil: a água era para encher o copo de quem primeiro chegasse em casa, marido ou esposa, fazendo com que se ouvissem mais, e entendessem realmente o que o outro queria dizer. A regra era encher o copo, encher a boca de água e não responder as provocações, que, com o tempo, acabaram, pois a repercussão era nula.

E a dona vizinha, mais simples ainda: o policial indicou a compra de um espelho e propôs um desafio! Ela deveria entender primeiro quem aparecesse na imagem antes de se esforçar em entender qualquer outra pessoa ou situação.

Complicar a vida é não ter clareza e foco naquilo que efetivamente nos faz bem! Vai uma água com espelho aí? Olha que chamo o policial...Belo exemplo de ser humano!

*César Silva é professor, escritor, consultor e mentor de negócios - CEO @cesarsilvasimplesmente