DICA DE LEITURA: SUL DA FRONTEIRA, OESTE DO SOL

Romance de Haruki Murakami traz história de homem atormentado pela saudade e pelas escolhas que fez na vida. Haverá uma segunda chance?

Por Aline de Melo Pires*

Quem me conhece sabe o quanto sou apaixonada pela obra do japonês Haruki Murakami. Gosto do seu olhar, da sua sensibilidade diante da condição humana, da fragilidade exposta de seus personagens e das agruras existenciais de cada um, homem, mulher ou adolescente. Pois, depois de quase um ano do último Murakami lido, voltei a ler  o  japonês e gostei de cada linha de Sul da Fronteira, Oeste do Sol.

Publicado originalmente em 1992 chega ao Brasil somente agora, em uma edição especial de um clube de assinatura de livros e espero que logo a editora de Murakami no Brasil possa publicar para que chegue a ainda mais leitores desse autor que considero incrível

Bem, Sul da Fronteira, Oeste do Sol, cujo título é inspirado também m uma canção de Nat King Cole, conta a história de Hajime, que tem sua vida toda marcada pela presença, tanto física quanto na lembrança, de Shimamoto, com quem conviveu desde a infância até os 12 anos de idade. Os dois têm em comum a paixão pela música, pela leitura e pela arte. Ainda compartilham a condição de filhos únicos e de tudo o que isso significa, em uma cultura marcada tradicionalmente por famílias maiores, com mais filhos.

A separação ocorre quando ela muda de cidade com a família e eles perdem o contato. Hagime mergulha em uma trilha de solidão e saudade, segue sua vida quase que de modo automático, continua a estudar, vai para o ensino médio, faculdade, arruma um emprego considerado medíocre por ele mesmo.

Sua vida começa a mudar, ou seja, o cenário é completamente outro, a partir do momento em que ele conhece aquela que com quem vai casar, Yukiko. Mas, será que tudo mudou mesmo?

Há momentos em que Hagime acredita ver Shimamoto pelas ruas, o pensamento nela é constante, fica ali quietinho, mas o acompanha o tempo todo. Até que ele recebe uma visita inesperada... Ou seria esperada? 
É a partir de então que ele busca resgatar muito do que julga ter deixado para trás, numa luta pela sobrevivência de instintos, tenta recuperar possibilidades abandonadas. E é incrível acompanhar esta jornada mergulho num mar de recordações, arrependimentos e projeções.
 
Outra questão que me atrai muito na obra de Murakami é quanto aos finais, adoro finais abertos e isso é um dos recursos mais incríveis da literatura, que permite ao leitor exercitar como nunca sua capacidade de imaginação. Há quem prefira tudo explicadinho, tudo fechado como um quebra-cabeça, mas não espere por isso ao se deparar com a maioria dos livros de Haruki Murakami, espere muito mais!

*Jornalista - Diretora de Conteúdo do Temas Preferidos