DICA DE LEITURA: PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR

Novo livro do japonês Haruki Murakami reúne oito contos inéditos com referências de toda a sua obra e estilo

Por Aline de Melo Pires*


Fãs de Haruki Murakami vão encontrar no seu novo livro praticamente todas as referências que usa em sua obra de maneira geral. E isso é muito bom. Primeira Pessoa do Singular**, obra inédita que acaba de chegar ao Brasil, pela Editora Alfaguara, reúne oito contos do japonês que segue na luta pelo Nobel de Literatura. Torcida não falta, inclusive por aqui! Está tudo ali, memórias sobre uma de suas paixões, o jazz, os Beatles, beisebol e música clássica e, claro, o realismo fantástico abordado de maneira bem peculiar, como só ele é capaz.

Posso dizer que este livro é um menu degustação de tudo o que permeia a obra de Haruki Murakami, perfeito para quem quer entender seu universo antes de se aventurar em algum de seus romances incríveis. Como o título sugere, os contos do novo livro são narrados em primeira pessoa e por vezes nos traz nitidamente a própria pessoa de Murakami. Como no conto Coletânea de Poemas Yakult Swallows, onde ele descreve sua paixão pelo beisebol e de como isso também o estimulou a produzir poemas, literatura. E o leitor mais atento, que tenha lido a obra Ouça a Canção do Vento, vai encontrar aqui mais referências sobre o processo de criação do escritor e de coisas que o inspiram desde o começo de sua carreira.

Já no conto Charlie Parker Plays Bossa Nova, a narrativa de ficção fica clara. Aqui, o autor faz uma resenha totalmente fictícia acerca de um novo trabalho de Charlie Parker, aquele famoso saxofonista norte-americano. Na história criada por Murakami surge uma parceria entre Parker e Tom Jobim! Já pensou??

O realismo fantástico neste livro fica por conta de A Confissão do Macaco Shinagawa, que nos apresenta um macaco falante, atendente em uma pousada. Um pouco bizarro, talvez, mas instigante. Temos o narrador em altos papos existenciais com o símio e o leitor é transportado da mesma forma para outras reflexões. Um macaco que se apaixona por humanas e, como não pode ser correspondido, acaba por roubar parte de seus nomes, deixando-as confusas sobre suas próprias identidades. É Murakami sendo Murakami... É claro que temos aqui aquela abordagem meio esquisita que marca a relação do escritor com as mulheres de forma mais abrangente e há quem veja nisso toques evidente de machismo e misoginia. Prefiro pensar que não, e depende muito do ponto de vista. Quem quiser ler, está aberto o debate.
Boa leitura!


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*Jornalista e diretora de Conteúdo do Portal Temas Preferidos

**Você encontra este e outros títulos, entre clássicos e lançamentos, na Livraria Letras&Cia, nossa parceira na divulgação de leitura, no Bourbon Shopping, em Novo Hamburgo