DICA DE LEITURA | Deriva

Uma história de amor que arrebata os corações de todos os moradores de uma ilha cheia de mistério e beleza

Por Aline de Melo Pires*


Quem se encantou com a narrativa que Leticia Wierzchowski apresentou em Sal, vai ser arrebatado com a história que chega com Deriva**, a mais recente obra da gaúcha que traz novamente o cenário das praias inspiradas no litoral uruguaio para contar uma história de amor como poucas que eu já li.


Para ler Deriva não é imprescindível ler Sal, embora possa ajudar na compreensão da narrativa, sobretudo dos personagens. Inspirada na poesia da portuguesa Sophia de Mello Breyner Andersen, Deriva é uma história de amor. E posso dizer que como outras histórias contadas por Leticia Wierzchowski, me arrebatou. Une três personagens principais em torno de uma devastadora paixão, daquelas que corroem e cegam. O texto de Letícia Wierzchowski comprova isso. Juro que não estou divagando. Está ali, em cada uma das páginas.


O livro dá seguimento à saga da família Godoy, que mora na ilha La Duiva, e começa com o retorno de um dos filhos de Cecília e Ivan, Tiberius, com seu filho Santiago, à casa da família, onde ele restabelece as atividades que já marcaram a vida dos Godoy, como o funcionamento do farol. O pequeno Santiago tem dons especiais, herdados do pai, como ver e conversar com os mortos, especialmente seus tios, além de pressentir a chegada de uma figura muito especial, que dará o tom de toda a narrativa de Deriva.


A criança prefere manter a discrição quanto ao que sente e ao que vê, mas sua avó e seu pai, apesar de não comentarem o assunto, sabem da realidade do pequeno Santiago. Ele sente que uma mulher está chegando à ilha e a espera na praia, talvez sem ter a exata noção do que o encontrará, mas chega, no exato momento em que Coral sai do mar em sua direção.


E num mistério total, a jovem e sedutora Coral chega a La Duiva com as mesmas angústias e dúvidas de quem a recebe: não sabe de onde veio, nem por quê, não se recorda de seu passado, nem se foi vítima de um naufrágio. Mas é acolhida com empatia e carinho pela família Godoy, despertando uma paixão avassaladora em Tiberius e um sentimento imenso de amizade e ternura em Santiago numa relação que oscila entre mãe/filho e irmão/irmã.


A força dessa paixão provocada por Coral é tão intensa que rosas vermelhas começam a brotar descontroladamente por toda a ilha. Botões estouram dentro e fora das casas, jardins, areia da praia e toda a comunidade é tomada por uma nuvem de paixão. E isso acaba por atrair pessoas de fora para La Duiva.


Há quem saiba exatamente porque chegou, como o desenhista Ignácio Casares que, curioso sobre o fenômeno das rosas, chega à ilha para desenhá-las em toda a sua fúria e beleza.


Mas não é somente Coral que chega à ilha para mudar a vida de todos. Logo o também jovem e belo Tomás Acuña desembarca em La Duiva, contratado como faroleiro. É um personagem que mexe com a imaginação de uma forma muito precisa. Ele surgiu para simplesmente seduzir e apaixonar e é ele quem faz com que as histórias da maioria dos outros personagens tenha seu destino traçado.


E tem outra… Não quero dar spoiler nem estragar a surpresa durante a leitura, mas a forma como Coral foi criada se revela de uma maneira linda e de uma sensibilidade incrível.


A inspiração de Letícia Wierzchowski me despertou a vontade de ler Sophia de Mello Breyner Andersen e acredito que, se você ainda não a conhece, depois de Deriva também vai querer lê-la.


*Jornalista e diretora de Conteúdo do Portal Temas Preferidos


**Agradecemos à Editora Planeta de Livros que gentilmente nos enviou um exemplar de Deriva