DESCONGESTIONANTE NASAL: VOCÊ CONHECE OS PERIGOS?

Medicamento, quando usado sem controle, pode causar dependência e riscos à saúde, especialmente ao coração, explica especialista Eduardo Granzotto

Basta cair um pouco a temperatura, a gente começa a sentir o nariz entupir e lembra que uma certa vez, o médico receitou o descongestionante nasal e pronto... Como num passe de mágica, tudo muda, a respiração volta a fluir normalmente. E é assim, como está ali, fácil, ao alcance da mão, o descongestionante nasal passa a ser companhia constante e... perigosa. Pois vicia e pode prejudicar a saúde. Cuidado, se você é uma dessas pessoas que não vive sem o seu tubinho dentro da bolsa, e literalmente, enlouquece quando se dá conta de que não tem um por perto, preste atenção neste alerta.

Conversamos com o otorrinolaringologista Eduardo Homrich Granzotto (foto abaixo), que explica os perigos do uso descontrolado deste tipo de medicamento. Com a mudança de clima pela chegada do outono, diz ele, é comum o nariz se irritar e ter um inchaço interno. Isto acontece por algumas rinites (alérgica, vasomotora, etc.) que acontecem nessa época. O correto seria consultar um médico para fazer um tratamento adequado para prevenir que isso aconteça e não usar paliativos com efeitos adversos danosos. "Antes do uso dos descongestionantes nasais, deveríamos tentar os descongestionantes orais, com menor potencial de dependência. Os descongestionantes nasais deveriam ser usados somente em último caso, como em quadros gripais intensos, e por somente alguns dias", afirma o médico, especialista em Plástica Facial na Clínica Face +. 
Ele afirma que a maioria das pessoas não lê a bula, mas a desse tipo de medicamento alerta para que não se use por mais de três dias seguidos. Essa recomendação é justamente pelo risco de dependência que paciente adquire quando usa por mais tempo.

Mas, por que isso acontece? De acordo com   Granzotto, nosso nariz   possui um mecanismo   extremamente complexo   para sempre mandar o ar   úmido, aquecido e filtrado   para os pulmões. Esse   mecanismo depende do   controle do fluxo   sanguíneo nos vasos do   nariz realizado por nervos.   O uso do   descongestionante nasal   por mais de três a cinco   dias, ressalta o médico, acaba anulando o controle natural exercido pelo nervo, fazendo com que o nariz fique completamente fechado quando não está sob efeito da medicação, somente abrindo quando a medicação é usada novamente.

AUMENTO DA PRESSÃO ARTERIAL E ARRITMIA CARDÍACA
Além do risco de o paciente ficar viciado neste tipo de medicamento, os vasos da mucosa nasal absorvem grande quantidade da medicação, levando para toda a circulação sanguínea corporal. A ação da medicação na corrente sanguínea é a de aumentar a pressão arterial e causar arritmias cardíacas. "É bem frequente atermos pacientes em uso de descongestionantes nasais com hipertensão arterial e arritmias cardíacas de difícil controle e uso de múltiplos medicamentos na tentativa de controle", explica o otorrinolaringologista.

Por outro lado, o médico diz que é possível, sim, deixar a dependência desse tipo de remédio. Mas, para largar, salienta, é preciso tratar a doença principal, normalmente a rinite que não está sendo tratada e, mesmo assim, é necessário o uso de outros medicamentos para que o paciente fique mais confortável.  "O descongestionante não trata a causa do problema, é simplesmente um sintomático que acaba causando uma rinite medicamentosa. O tratamento é direcionado pra a doença que causa o sintoma de obstrução, seja rinite, desvio de septo, pólipos no nariz, etc", complementa Granzotto. 

Ele alerta ainda que esse tipo de medicação, usado sem controle, pode ser danoso tanto para adultos quanto para crianças. Deve ser usado em último caso e pouquíssimas vezes. O médico ressalta que a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia protocolou, este ano, um pedido para que os descongestionantes nasais sejam transformados em medicações com necessidade de receita médica para a compra devido ao uso indiscriminado e ao potencial danoso dessas medicações.