DE ONDE VEM A RELAÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA COM A SAÚDE

A tecnologia veio ajudar o ser humano, mas seu excesso acaba por afastá-lo das ações que movimentam o corpo

Todos os dias lemos e ouvimos notícias sobre os benefícios das atividades físicas para o corpo e para a mente. Mas, por que, para algumas pessoas, ainda é tão difícil começar ou recomeçar a frequentar a academia? Segundo o cardiologista Silvio Gioppato, boa parte da explicação está no desenvolvimento tecnológico, que trouxe muitas coisas positivas para a vida das pessoas, como o conforto e a abundância de alimentos.

Mas, isso tudo se constitui em um grande estímulo para a inatividade física e o consumo em excesso de calorias que estão na base das epidemias de sedentarismo e obesidade.

Dados recentes do Ministério da Saúde dão conta de que 52,5% dos brasileiros estão acima do peso e, destes, 17,9% já podem ser considerados obesos. No ano de 2006, essas proporções eram de 42,6$ e 11,8%, respectivamente.

Mas, segundo Gioppato, em contrapartida, nas últimas décadas iniciou-se um movimento crescente de pessoas incorporando a atividade física regular ao estilo de vida. Estatísticas apontam que, nos Estados Unidos, o número de pessoas que participam de corridas de rua passou de 120 mil em 1980 para 430 mil em 2005, com aumento da idade média dos participantes de 34 para 40 anos. TENDÊNCIA NO BRASIL

No Brasil, essa também é uma tendência. É o que diz Igor de Souza, supervisor de Maratonas Aquáticas da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) e organizador do Circuito Paulista de Águas Abertas. Segundo ele, o número de inscritos nessas provas cresceu quase 150% entre 1998 e 2014, passando de 360 para 883 competidores.

Em 1998, as mulheres representavam apenas 26,8% dos inscritos e em 2014 elas passaram a representar 43,1%. No levantamento da pesquisa VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) do Ministério da Saúde, o número de pessoas que praticam atividades físicas aumentou 18% nos últimos seis anos, sendo que 35,3% dos pesquisados afirmaram dedicar pelo menos 150 minutos por semana aos exercícios. A pesquisa também aponta que o hábito de ver televisão por mais de três horas por dia caiu de 31% para 25,4%, o que é muito positivo.

DESDE OS PRIMÓRDIOS

A estreita relação entre atividade física e saúde está claramente demonstrada na literatura médica com grandes estudos epidemiológicos mostrando que pessoas que se exercitam regularmente têm maior expectativa de vida e menos fatores de risco cardiovasculares, quando comparadas com sedentários.

Segundo o médico cardiologista, há uma explicação biológica para a relação entre atividade física e saúde. Há cerca de 6 milhões de anos, quando  nossos ancestrais resolveram descer das árvores para viver em terra firme, passamos a sofrer uma forte pressão evolucionária que, ao longo desse tempo, transformou a nossa forma de ver e se relacionar com o mundo. “Dois fatores tiveram influência marcante no sucesso dessa decisão: a dieta e o exercício. Como a dieta era essencialmente vegetariana e dura, eles eram obrigados a passar longas horas do dia inativos, mastigando e digerindo o seu alimento de difícil digestão, exatamente como ainda fazem os chimpanzés, gorilas e orangotangos”, conta Gioppato.

Com a mudança de habitat, os alimentos deixaram de estar facilmente ao alcance das mãos, bem como a oferta passava a estar condicionada à sazonalidade. Isso obrigou o homem a se deslocar, em terra, por distâncias cada vez maiores em busca de novas fontes de energia. Por conta dessa nova realidade e mais tarde com o domínio do fogo, o preparo e o tipo de dieta se modificou e, junto com ela, a forma e fisiologia do corpo humano. Os braços encurtaram, as pernas alongaram e os pés ficaram mais achatados, afinal, subir em árvores deixava de ser prioridade para dar lugar à caminhada o mais distante e rápido possível na busca de alimentos e segurança.

ATIVIDADE FÍSICA ESSENCIAL

Observando esse histórico fica claro que a atividade física foi um dos moldes da reengenharia do corpo humano e que dificilmente será substituída por qualquer avanço tecnológico.

Evidências científicas apontam que pessoas que adotam um estilo de vida ativo, como caminhar até o trabalho ou até o restaurante na hora do almoço, substituir a escada rolante ou elevador pelas escadas convencionais, entre outros exemplos simples, têm menor risco de desenvolvimento de diversas doenças crônicas e da mortalidade, e isso vale tanto para indivíduos sadios como com doenças cardiovasculares.

Gioppato também ressalta que os estudos ainda mostram que esses benefícios crescem progressivamente à medida que se aumenta o nível de atividade física. No entanto, a curva de benefícios à saúde não é infinita, ou seja, ela progride positivamente até um certo nível de atividade além do qual não se observam ganhos adicionais.

Portanto, procure seu médico, faça uma avaliação e busque uma atividade física que lhe dê prazer e lhe proporcione ganhos na saúde. É importante também conhecer seus limites, até onde você pode, e deve, ir.