A HUMANIZAÇÃO DO HOME OFFICE E AS MUDANÇAS NO TRABALHO PÓS-PANDEMIA

É preciso também olhar para as emoções e os sentimentos diante de um cenário que de emergencial passará a permanente

Vivemos um momento ímpar na história da humanidade. Não sabemos quando a pandemia do coronavírus vai acabar, mas o mais certo é que a vida no planeta Terra jamais será a mesma depois que tudo isso passar. Poderíamos aqui elencar vários hábitos que deixarão de existir, alguns que chegarão e outros que sofrerão adaptações. Neste último caso, já podemos nos preparar para uma situação que se mostra cada vez mais confirmada, a mudança dos hábitos de trabalho com a consolidação, cada vez mais evidente, do trabalho remoto ou do home-office. 

Para muitas empresas, esta foi a medida para contornar a situação imposta pelo isolamento social e por medidas de distanciamento com o menor impacto possível. Dessa forma, empregadores estão descobrindo que o home office pode funcionar não somente em relação à produtividade, como também no que tange à diminuição de uma série de despesas e investimentos.

Mas, como será que estamos nos preparando para isso tudo? De um lado, precisamos entender a questão da tecnologia, ferramenta essencial neste contexto, necessária para fazer essa engrenagem funcionar. De outro, é preciso entender as mudanças do ponto de vista emocional, psicológico e comportamental, uma vez que o que é hoje uma situação emergencial pode se transformar em permanente. 

Ao final da pandemia, o home office deve crescer 30% em relação ao cenário visto hoje, como aponta a pesquisa a pesquisa "Tendências de Marketing e Tecnologia 2020: Humanidade redefinida e os novos negócios" desenvolvida por André Miceli, coordenador do MBA em Marketing e Inteligência de Negócios Digitais da Fundação Getulio Vargas.

Assim, o até então preconceituoso conceito de improdutividade, que cercava o modelo de trabalho remoto vai sendo desmistificado e passando a ser valorizado pelas grandes corporações, como explica o CEO da ES Tech, Rubens Branchini, que está à frente da empresa que se destaca no segmento de videoconferência, comunicação unificada e segurança eletrônica.

"Hoje já não é visto com maus olhos as pessoas desempenharem tarefas com menos preocupações quanto ao cenário, família, filhos, cachorros, gatos, plantas, utilizar figurino casual, muito pelo contrário, estes fatores servem como "combustíveis" para aumentar a produtividade, dedicação e comprometimento dos funcionários", diz Branchini.

Ele ainda reforça os dados da pesquisa citada acima, de que o estudo também sugere que os líderes sejam encorajados a revisar seus processos internos, pensarem, testarem e compreenderem que a tecnologia é, "cada vez mais, um ativo humano".

A análise de Miceli cita o e-commerce e o ensino a distância, que em geral, devem crescer 30% e 100%, respectivamente. Esse estudo diz que, em momentos de instabilidade, como o da atual pandemia, é preciso ser flexível com estruturas e modelos corporativos para prosperar. E sempre ter em mente os benefícios que o home-office traz para o empregador, como aumento entre 15% e 30% na produtividade do colaborador.

Tecnologia e emoção

Mas, em meio a isso tudo, é preciso voltar o olhar para o que sentimos neste novo cenário. Repetimos: como as pessoas que, de repente, se verão "forçadas" a seguir esta tendência deverão receber esta nova forma de trabalho, que de emergencial poderá passar a permanente? Em primeiro lugar, é preciso aceitar e lidar com a existência de emoções. Precisamos entender que podemos ter raiva, ficar frustrados e ter dificuldades, como explica a professora do curso de Psicologia da Universidade Feevale, Michele Terres Trindade.

"É normal as pessoas ficarem frustadas com algo que querem fazer e não dá certo. Devemos aceitar as dificuldades, pois é normal nesse momento que estamos passando", afirma a psicóloga ao ressaltar que ela própria tem enfrentado o mesmo tipo de situação. 

Segundo Michele, o primordial nesse contexto é entender que não se tem controle sobre mudanças externas, então o que se pode fazer é o que está de acordo com as possibilidade, reconhecer o que pode ser feito, da melhor forma que puder. "No meu caso, precisei mudar estratégias no âmbito acadêmico e quem precisa aceitar isso e trabalhar para as coisas funcionarem sou eu, então comecei a trabalhar com isso e não lutar contra isso. Em geral as pessoas que vão sofrer mais, são as que se envolvem bastante com o trabalho, para isso devemos acolher esse momento difícil", completa a psicóloga.

É aí que pode entrar em cena uma das melhores ferramentas para trabalhar a adequação a novas situações, a ajuda terapêutica. Conforme Michele, existem processos terapêutios que nos auxiliam nesia ideia, de lidar com a raiva e com a frustração. "Se a pessoa consegue lidar sozinha, é tranquilo. Mas, se está dificuldade, isso se torna uma dificuldade de interação e de retomar o seu trabalho e, se não dura pouco tempo, isso se transforma em um problema. Lidar com a raiva, que é uma expressão momentânea, é aceitável. Ficar o dia inteiro com essa dificuldade, passa a ser um problema", diz a professora.

Assim, prossegue, depende de cada caso, individualmente. O importante é que haja a identificação de uma situação de alerta e se procure ajuda de modo a não prejudicar o desempenho da pessoa tanto no trabalho quanto nas relações. "O fato de notarmos que isso que estamos vivendo é uma mudança externa faz parte para vermos que está fora do nosso controle. As pessoas mais controladoras tendem a sofrer mais, porque elas precisam notar que o controle é interno e não externo. Precisamos nos autorregular", completa.