Pílulas de RH | Gaslighting: uma armadilha invisível!
O conceito se expandiu para incluir várias formas de abuso emocional, especialmente em relacionamentos interpessoais, tornando-se um termo comum em discussões sobre saúde mental e dinâmicas de poderPor Andreia Macedo* Você já saiu de uma reunião com a sensação de que talvez estivesse exagerando? Ou ouviu alguém dizer que algo que você tem certeza que aconteceu foi “coisa da sua cabeça”? Se sim, atenção: você pode estar sendo vítima de gaslighting — uma forma de manipulação psicológica que, embora muitas vezes sutil, causa impactos profundos no ambiente profissional e na autoestima de quem sofre com ela. O termo gaslighting tem suas origens na peça de teatro Gas Light, escrita pelo dramaturgo britânico Patrick Hamilton em 1938, na qual um homem manipulava sua esposa fazendo-a duvidar da própria sanidade. A peça foi posteriormente adaptada para o cinema em duas ocasiões: primeiro, em 1940, e, mais famosa, em 1944, com a atuação de Ingrid Bergman e Charles Boyer. Com o tempo, o termo passou a ser usado para descrever não apenas a dinâmica entre os personagens da peça, mas também situações na vida real onde uma pessoa tenta fazer outra duvidar de sua própria memória, percepção ou sanidade. O conceito se expandiu para incluir várias formas de abuso emocional, especialmente em relacionamentos interpessoais, tornando-se um termo comum em discussões sobre saúde mental e dinâmicas de poder. No mundo corporativo, essa prática acontece quando alguém — geralmente em posição de influência — distorce fatos, nega situações evidentes ou invalida as percepções com o objetivo de desestabilizar a outra pessoa. Ou seja, é quando alguém tenta fazer você duvidar da sua própria realidade. No trabalho, se manifesta com frases que podem parecer inofensivas à primeira vista, mas escondem um padrão nocivo. Se você já ouviu: “Você está exagerando.” “Isso nunca aconteceu, deve estar imaginando coisas.” “Você é muito sensível.” “Ninguém mais entendeu assim, só você.” Essas falas não apenas desqualificam a percepção da vítima, mas criam um ambiente em que ela começa a questionar suas próprias memórias, reações e até sua competência profissional. Estudos da Fundação Getúlio Vargas revelam que os “praticantes” do gaslighting têm alvos principais. Em pesquisa realizada com 37 empresas do Rio de Janeiro e São Paulo mostraram que essa prática atinge com mais frequência mulheres, pessoas negras e LGBTQIAP+. O gaslighting misógino, por exemplo, tem sido apontado como um dos principais motivos pelos quais muitas mulheres enfrentam estagnação na carreira ou acabam pedindo demissão. A invalidação constante, somada à sobrecarga emocional, leva ao esgotamento e à perda de autoconfiança. O primeiro passo para combater o gaslighting é reconhecer seus sinais. Se você vive situações em que sente que sua memória está sendo constantemente questionada, que é frequentemente acusada(o) de exagero ou sensibilidade excessiva, sai de conversas com mais dúvidas do que entrou, então vale parar e refletir: isso é normal ou é uma forma de manipulação? Preparar-se emocionalmente para lidar com essas situações no ambiente profissional envolve autoconhecimento, fortalecimento da autoestima, estabelecimento de limites e busca de apoio. Confie na sua percepção. Se algo parece errado, provavelmente está. Registre interações que você considera problemáticas, anotando datas, horários e detalhes. Isso pode ajudar a esclarecer situações confusas e servir como prova, se necessário. Guarde e-mails ou mensagens que documentem interações importantes, especialmente aquelas em que você se sentiu desvalorizado ou manipulado. Compartilhar suas experiências com colegas que você confia pode ajudar a validar suas percepções e fornecer apoio emocional. Um profissional de saúde mental pode oferecer ferramentas e estratégias para lidar com situações difíceis, além de ajudar a processar suas emoções. Pense em como você gostaria de responder a comportamentos hostis. Ter respostas prontas pode ajudar a reduzir a ansiedade quando você se depara com essas situações. Praticar técnicas de gerenciamento de estresse, como respiração profunda, mindfulness ou yoga, para ajudar a manter a calma. #ficadica E se a situação não melhorar, avalie a possibilidade de relatar o comportamento ou buscar novas oportunidades. Ambientes de trabalho saudáveis não são aqueles livres de conflitos, mas sim aqueles em que o respeito, a escuta e a validação das experiências alheias são prioridade. Reconhecer o abuso é um passo fundamental para criar relações mais justas e humanas nas organizações. Para evitar situações como essa e outras formas de abuso emocional no ambiente de trabalho, as empresas podem adotar várias estratégias, alinhadas com os princípios da atualização da NR-1. Você já passou por algo parecido? Compartilhe sua história pode ajudar outras pessoas a identificarem essa armadilha invisível. *Coordenadora de Recrutamento e Seleção na AM Gestão de Talentos, aqui para contar um pouquinho dos bastidores do “erreagá” e ajudar a quem precisa com dicas e insights. Publicidade Publicidade |