VENÇA O MITO DE QUE ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL É DIFÍCIL E CHATA!

Nutricionista fala sobre o quanto comer certo pode ser prazeroso e proporcionar a descoberta de novos sabores

Quando se fala em alimentação saudável, ainda é comum que a maioria das pessoas entenda que a ideia é deixar de comer o que mais gosta ou o que está habituado. Não é fácil convencer que comida saudável pode ser saborosa. Para entender um pouco melhor esse contexto e esclarecer sobre a possibilidade e a importância de optar por alimentos benéficos à saúde, conversamos com a nutricionista Daia Fuhr, uma apaixonada pela profissão e por ajudar as pessoas a encontrarem e manterem bons hábitos alimentares.

Durante muitos anos, conta ela, essa ideia errada sobre alimentação saudável foi difundida por muita gente, inclusive pelos próprios profissionais da saúde, que indicavam dietas restritivas de emagrecimento, alimentos de alto custo, diet, light, zero, entre outros. "Criou-se uma crença de que uma dieta saudável tem a ver com alimentos sem sabor, que não trazem prazer, com restrições e alto custo", diz a nutricionista.

Outro fator que reforça estas afirmações, na visão de Daia, é que enquanto vivemos a "era da informação", com apenas um clique é possível disseminar todo o tipo de notícia, fake ou não. "Podemos encontrar respostas para as as mais diversas dúvidas, também podemos expressar nossas opiniões, expor nossa rotina, gostos, sonhos, etc. A corrente do bem pode se espalhar com muito mais facilidade. As pessoas se conectam, se apoiam, adquirem conhecimento e isso é algo que acho incrível! Porém, existe o lado não tão bom assim. A facilidade da internet abriu margem para sensacionalismos alimentares. Algumas pessoas que se aproveitam das dores e dificuldades dos outros para passar mensagens e vender produtos sem evidência científica que garantam resultados e segurança. Então, vejo que muita gente se sente perdida em meio a tanta informação sobre alimentação e saúde. Além disso, o mercado sempre traz muitos novos produtos e boa parte da população ainda não consegue assimilar tudo que tem disponível e fazer escolhas mais conscientes", acrescenta.

Por outro lado, segundo Daia, nas últimas décadas o estudo do comportamento humano relacionado à alimentação e nutrição obteve mais destaque no meio científico. Percebeu-se que apenas o acesso à informação não era garantia de que as pessoas iriam adquirir hábitos saudáveis. "Por exemplo, é muito fácil dizer para um obeso: olha, você precisa fazer atividade física três vezes por semana e também cortar alimentos altamente calóricos de sua dieta", comenta. Mas, continua ela, a questão é que o conhecimento é necessário para motivar novas atitudes e ações, porém a mudança de hábitos é complexa e vai muito além do conhecimento adquirido. "Uma pessoa pode saber sobre saúde e querer mudar, mas ainda não chegou ao ponto de agir. Há aspectos subjetivos e coletivos que estão envolvidos no ato de se alimentar. "Fatores nutricionais, demográficos, sociais, culturais, ambientais e psicológicos permeiam as escolhas alimentares muito mais que os alimentos em si", comenta.

Um dos pontos esclarecidos aqui por Daia é a "regra" de que é preciso comer a cada 3 horas. Segundo ela, não se trata de algo que funcione para todo mundo, pois não há "receita de bolo" quando o assunto é alimentação saudável. De acordo com a nutricionista, é preciso reconhecer o que é possível fazer de mais saudável dentro da nossa própria rotina. Se a pessoa se sente melhor comendo 4 vezes ao dia, diz, tudo bem. Então, o importante é fazer refeições equilibradas nesses momentos, de acordo com a sensação de fome. 
"Quem não habitua-se a comer em horários regulares sente culpa ou ansiedade e acredita que não consegue 'ser saudável'. Já outras pessoas comem de 3 em 3 horas até sem ter fome, mas porque ouviram em algum momento que isso é 'mais saudável'", reforça. 

O ponto-chave, para Daia, é: precisamos nos reconectar com os sinais do nosso corpo. Comer quando temos fome, parar de comer quando nos sentimos saciados. O "ser saudável" ou não envolve muitas coisas que não estão somente relacionadas a alimentação.

Ela considera que regras rígidas de horários podem atrapalhar pessoas com rotinas "corridas", gerar ansiedade, pensamentos repetitivos sobre comida, comer em pouca quantidade apenas para cumprir horário. 
"Em alguns casos, como gastrite, refluxo e ganho de peso, comer de 3 em 3 horas pode ser benéfico. É preciso avaliar cada caso individualmente", pondera, daí a importância de contar com profissionais da saúde para encontrar o equilíbrio quando se trata da alimentação.

Mas, você chegou aqui e pergunta: então, o que se deve comer? apesar de o propósito da alimentação ser dar ao organismo todos os nutrientes de que ele necessita, nem de longe comemos apenas por este motivo. Comida é também cultura, prazer, saúde, conforto. Não precisamos pensar em nutrientes de forma isolada, mas sim em alimentos que podem ser combinados e preparados de variadas formas para suprir as nossas necessidades, diz a nutricionista ao citar o Guia Alimentar Para a População Brasileira

A base da alimentação deve ser de itens in natura ou minimamente processados:
- Alimentos in natura são obtidos diretamente de plantas ou de animais e são adquiridos para o consumo sem que tenham sofrido qualquer alteração após deixarem a natureza.  

-  Alimentos minimamente processados correspondem a alimentos in natura que foram submetidos a processos de limpeza, remoção de partes não comestíveis ou indesejáveis, fracionamento, moagem, secagem, fermentação, pasteurização, refrigeração, congelamento e processos similares que não envolvam agregação de sal, açúcar, óleos, gorduras ou outras substâncias ao alimento original.

Alguns exemplos de alimentos in natura ou minimamente processados: 
- legumes, verduras, frutas, carnes (porco, gado, frango, peixe), ovos, leite, iogurte (sem adição de açúcar), chás, café, açúcar, sal, óleos, água, grãos secos embalados (arroz, feijão, lentilha, milho, trigo, etc), oleaginosas, especiarias e ervas secas. 

Daia salienta que quanto menos alimentos ultraprocessados melhor. São aqueles que vêm embalados, são muito práticos e normalmente contém no rótulo uma série de ingredientes, muitos que não conhecemos como:biscoitos, gelatina, salgadinhos, molhos e temperos, prontos.  

Organização e planejamento são fundamentais para quem quer ter um estilo de vida mais saudável. É essencial reconhecer as coisas que mais gosta de comer, pensar no que é necessário incluir na alimentação e manter esses alimentos à disposição. 

Alguns pontos importantes de ressaltar são: 
- ter os alimentos em casa para não comer "qualquer coisa" num momento de fome. 
- procurar informações sobre como conservar alguns alimentos que mais gosta e consome. 

Por exemplo: as folhas verdes duram mais quando lavamos, secamos e guardamos em potes com papel toalha para absorver a umidade. 
- Levar lanches e água sempre consigo. 
- São poucos os alimentos que não podem ser congelados. 
É possível encontrar várias dicas bacanas de conservação e preparação na internet. Outra boa dica é: procure uma nutricionista que possa auxiliar num planejamento mais personalizado para sua rotina.