SALA DA TEACHER DAIA: De longe, mas muito perto, a experiência de um intercâmbio virtual

Temos uma imensa capacidade de adaptação, podemos transformar o que bem quisermos

Por Daiana Souza*

Só de pensar em fazer um intercâmbio em tempos de pandemia já fico triste. Não podemos mais viajar como antes, sem máscara nem medo de estar perto das pessoas. Lembro de minha época de mochileira mil anos atrás, em que viajei sem muitos recursos mas com muita vontade de estudar, fazer novos amigos e aprender muito. O intercâmbio acaba se tornando uma experiência de ensino/aprendizagem itinerante, em que nosso material escolar é a mochila e nossas salas de aula são os locais por onde passamos. Como professores, temos pessoas que conhecemos ao longo do caminho. Mas, se somos privados de viajar e de ter contato por causa do maldito Coronavírus, isso quer dizer que fazer intercâmbio se tornou algo impossível?

Absolutamente, não. Temos uma imensa capacidade de adaptação, podemos transformar o que bem quisermos. E eu pude passar por uma experiência muito interessante recentemente, numa parceria entre Instituto Ivoti, Universidade de Gottingen, da Alemanha e outras universidades da Estônia, Suécia e Turquia. Como os estudantes desses países não podiam viajar para se encontrar de forma presencial, pela primeira vez pude participar de um intercâmbio virtual. Sim, mesmo separados por continentes, estivemos muito perto uns dos outros e até mesmo fazendo trabalhos em grupo e falando de amenidades. Teve até o clássico coffee break, quando podíamos parar para o cafezinho.

O projeto BEST Exchange Summer School, promovido pelas universidades em parceria, acontece uma vez ao ano em Gottingen e oferece palestras e cursos para futuros professores. Os participantes são de inúmeros países, estudantes de vários cursos, mas todos com um objetivo: ser um professor em sua área de conhecimento. Foi uma semana de muita troca, aprendizado e surgimento de novas amizades. Entre 16 e 20 de agosto (2021) nos encontrávamos todos os dias via Zoom, para nossas vídeo-conferências (e no horário da Alemanha, que era 5h da manhã no Brasil), palestras e trabalhos em grupo. Falamos sobre como funciona o intercâmbio virtual, como podemos desenvolver projetos nessa área e discutimos todos os desafios que compõem esse complexo universo virtual. Afinal, como conectar estudantes de várias partes do mundo em prol de um objetivo?

Participar desta experiência virtual trouxe à tona um assunto emergencial: precisamos falar de uma educação global, além das salas de aula. O aprendizado não é mais construído somente através da relação professor-aluno dentro da escola, mas também entre professores e alunos de outros países, de outras escolas diferentes, entre pessoas que falem outras línguas. Conhecimento e experiências de ensino precisam ser compartilhadas, não podem ficar restritas a barreiras físicas. E poder compartilhar experiências com professores e estudantes de outras universidades sem precisar sair de casa foi fantástico.

Nosso tempo nos pede cautela ao sair de casa, pede para não nos aglomerar, mas ninguém falou nada sobre parar de inovar e aprender. Será que essa é mais uma “boa” lição da pandemia? Agora é torcer para que nossos governantes invistam de verdade na educação brasileira, permitindo que mais pessoas possam participar de projetos nesse formato virtual. Quando a escola mal tem banheiro funcionando, é ridículo pensar que precisamos de tablets de última geração.

Mas não podemos deixar nossa esperança morrer diante de tantas adversidades. Toda mudança começa com um pequeno passo. Você está disposto a dar esse passo para fazer a mudança acontecer? Então comece agora: ajude uma escola pública a ter acesso a computadores, doe um serviço de internet, pague alguma conta de água que está em atraso naquela creche bem simples que você conhece ou promova projetos que envolvam a comunidade escolar. Eu não consegui viajar, mas não desisti de fazer um intercâmbio, mesmo que pelo Zoom. E você?

*Publicitária e professora de inglês. Daiana Souza escreve quinzenalmente neste espaço. Tem alguma dúvida, comentário ou sugestão a respeito do tema? Utilize os espaços abaixo para comentários.