POR QUE AS PESSOAS FICAM TRISTES NO FINAL DO ANO?

Entenda o Christmas Blue, fenômeno que pode atingir qualquer pessoa com uma tristeza profunda nesta época de festas

Todos os anos, quando dezembro começa e os sinos do Natal anunciam as festas que encerram mais um ano, a jornalista Vera Fernandes é tomada por uma grande tristeza. Um sentimento de vazio, uma agitação natural, mas que a deixa mal, passa a impressão de um grande esforço de todos para se sentirem bem e serem bons. Apesar de ser uma época em que as pessoas teoricamente devam se sentir felizes, saiba que Vera faz parte de um grupo bem considerável de gente que fica triste com a proximidade das festas de Natal e Ano Novo, e isso tem nome: Christmas Blue. Mas também tem uma explicação.

Segundo a psicóloga Cássia Cruz, é preciso compreender que o “final de ano” compreende um encerramento, um término, quando concluímos ou encerramos qualquer coisa em nossa vida (relacionamentos, formaturas, aposentadoria). “É natural que façamos um balanço de tudo o que ocorreu no decorrer daquilo que finda. Com o ano não é diferente, nós paramos para pensar nos eventos, nas conquistas, e não é incomum  que ao fazer esse exercício as pessoas acabem por considerar mais as questões que não deram certo, valorizando os aspectos negativos do período”, comenta Cássia. Além disso, a ideia de fim pode remeter à exaustão de ter “percorrido um trajeto”, aumentando assim essa sensação negativa.

Outro aspecto, abordado pela também psicóloga Vanessa Trintin, é que o Natal comumente traz à tona a lembrança de pessoas que perdemos por rompimento de relacionamento, pela distância e até mesmo pela morte.

Vera teve perdas importantes, como a morte de um grande amigo no Natal e um irmão que era velado sob os fogos do Reveillon. Mas, ela garante que isso só veio se somar ao sentimento de tristeza de final de ano. “Então eu diria que aparentemente não há motivo, embora tenham havido duas perdas, não antes da minha percepção de amargura de final de ano”, diz a jornalista.

O PERIGO DA DEPRESSÃO

Cássia chama a atenção para o fato de que esse é um fenômeno reconhecido, tanto é

que nessa época do ano ocorrem muitas tentativas de suicídio. Alguns indivíduos, mesmo transcorrido esse período não conseguem retomar sua rotina anterior, podendo até evoluir para uma depressão grave. No caso de Vera, ela acredita que isso passa depois que as festas acabam e a vida volta à sua rotina normal, talvez por isso acredite nunca ter tido a necessidade de buscar tratamento terapêutico.

A tristeza, segundo Vanessa, assim como qualquer emoção, é ativada pelos pensamentos e estes alimentam-na para que ela permaneça fazendo seus efeitos. “Da mesma forma, sentir tristeza pode contribuir para que a pessoa tenha pensamentos deprimidos, o que alimenta ainda mais a emoção, gerando um ciclo aparentemente sem fim”, alerta a psicóloga, que atende no Núcleo de Atendimento Psicológico (NAP), em Novo Hamburgo (RS).

Cássia saliena que, como forma de enfrentamento, o apoio das pessoas próximas é fundamental. Estar perto dos amigos e da família, em especial nas datas comemorativas pode ajudar a amenizar a tristeza. “É importante que fiquemos também alerta às pessoas à nossa volta que não possuem família e são solitárias, pois convidá-las a passar as festividades conosco pode ser um ato de promoção de saúde, mesmo que essas digam ‘não se importar’ em passar a data sozinhas”, sugere Cássia, que atende em Porto Alegre e Montenegro (RS).

HÁBITOS SAUDÁVEIS

Outros fatores que podem colaborar para o enfrentamento é manter uma quantidade adequada de sono, alimentação regular e em horários fixos, realizar atividades ao ar livre, manter hábitos prazerosos (leitura,programas de televisão, esporte), de acordo com Cássia, e ter uma programação planejada para os dias das festas.

Para Vanessa, a ajuda a essas pessoas também pode se manifestar especialmente por meio do não julgamento da tristeza, ou seja, permitindo que a pessoa se sinta triste, pois do contrário, além de tristeza, poderá surgir também um sentimento de culpa por estar se sentindo triste, o que agravaria ainda mais o problema.

A ajuda profissional, a terapia, é necessária nos casos que se prolonguem, ou naqueles recorrentes (pessoas que sempre se entristecem de forma importante no final do ano) de forma preventiva. E a terapia, diz Cássia, pode ser diretamente à pessoa em questão ou até mesmo indiretamente, através dos familiares para lhes ajudar a enfrentar o período da melhor forma.

No caso do aconselhamento psicológico e da psicoterapia o trabalho é de identificação das fragilidades emocionais e intervenção no intuito de fortalecer o indivíduo a enfrentar o período de forma sadia, sem prejuízos maiores. “O tempo de tratamento com psicoterapia é relativo, pois dependerá de variáveis a serem avaliadas pelo profissional da psicologia, como por exemplo, a intensidade do prejuízo na vida da pessoa, a necessidade de combinação da psicoterapia com outro tipo de terapia”, diz Vanessa.