EXISTE VIDA SEXUAL DEPOIS DA MATERNIDADE?

Uma fase delicada, de alta sensibilidade e que precisa ser discutida e superada

Por Lola Carvalho*

A vida sexual após a maternidade é um tema bastante sensível. E ele voltou com tudo, mobilizando opiniões e reflexões, depois que a apresentadora Sabrina Sato falou sobre a sua realidade, quase um ano após o nascimento de sua primeira filha, em uma entrevista para a TPM.

Ela foi questionada se sua vida sexual havia melhorado depois de ser mãe e a resposta foi "como pode melhorar, se não existe.”

E ela ainda fechou a conversa com outra pergunta: "quem faz sexo depois de ser mãe?"

Foi o suficiente para causar um burburinho sem tamanho e abrir uma discussão em torno deste assunto. Em grupos de mães, sites de fofoca, portais de notícias, não se falava em outra coisa.

Fui buscar mais informações sobre o assunto para trazer um pouco mais de dados e não só opinião para ampliar e enriquecer este tema. Um estudo com 2 mil mães e pais constatou que as mudanças, principalmente nos primeiros meses após a chegada do bebê, são profundas e, muitas vezes, definitivas. A pesquisa, realizada pelo ChannelMum.com — uma comunidade de pais do Reino Unidos —, e The Baby Show — um programa americano de TV —, revela que um terço dos relacionamentos sofre sérios problemas nos meses após o nascimento do bebê e o pior, um quinto termina durante o primeiro ano.

Os rompimentos geralmente acontecem aos seis meses — e um em cada três dos casais que se separaram disseram que a "completa falta de comunicação" foi o principal motivo. Metade dos casais relatou discutir com mais frequência após o nascimento do filho e um terço disse que às vezes passava cinco dias seguidos sem conversar com o outro. Além disso, três em cada dez disseram que a vida sexual diminuiu, enquanto 29% sentiram falta do carinho que compartilhavam anteriormente. Para as mulheres, uma enorme queda na confiança do corpo também teve um impacto no relacionamento, enquanto 24% dos homens se sentiram completamente ignorados quando a mãe favoreceu o bebê.

E não é difícil que isso aconteça. A chegada de um filho mexe com o equilíbrio natural que existe entre duas pessoas.

A rotina muda, as necessidades mudam, os hormônios mudam. Mudam as prioridades e todos os olhares estão voltados para as necessidades primárias do bebê.

A mulher, durante um tempo, é exclusiva do bebê. Tem a privação do sono, a amamentação, os cuidados com o recém-nascido, a dor (que existe independente do tipo de parto). Soma-se a isso, toda a pressão emocional e física pela qual a mulher sofre nos primeiros meses. A libido pode virar quase nada e o sexo, uma rara lembrança de um passado recente.

Por um tempo, ela deixa de olhar inclusive para ela mesma. Suas necessidades, seu corpo, seus sentimentos, tudo vai para debaixo de um tapete invisível, pois o filho é o que mais importa, naquele momento.

Com toda a certeza, este tempo pode ser diferente para cada mulher. Mas acredito que é importante investir na retomada da vida. E não me refiro aqui só a vida sexual, mas a vida social, profissional, o convívio com amigos, uma pausa para passar um tempo sem estar envolvida com o bebê e também, retomar a vida a dois.

Não foi por acaso que o meu "tema" da terapia era separar tempo para mim e para meu parceiro, deixar meu filho com a Avó e fazer algo sozinha, nem que fosse por uma hora, apenas.

Eu penso que um casamento sem sexo sofre. Perde conexão, esfria a relação e ambos passam a viver em função da maternidade e da paternidade, perdendo a sua referência enquanto homem e mulher, enquanto um casal. E isso não é saudável nem para a criança. Ver os pais felizes, também é algo que faz bem para os filhos. É verdade que quando temos um filho, passamos a ser uma família. Mas família é uma coisa, casal é outra e as necessidades individuais de cada um, outra. E cada um destes aspectos pode, ao longo do tempo, ir retomando seus lugares de importância.

Acredito também, que o parceiro tem um papel fundamental e crucial nesta retomada. Ele precisa conduzir este processo com muita sensibilidade, paciência e empatia. A mulher não é a mesma, em vários aspectos e este processo pode levar mais tempo para umas do que para outras. É importante investir na relação, nos cuidados, na reconstrução do afeto, num primeiro momento. Tudo isso, ajuda neste processo e pode trazer mais confiança para a relação.

Para terminar, respondo pergunta que abre este texto: Existe, sim. Mas é preciso paciência, dedicação, apoio e cumplicidade de ambos os lados. 

 

Lola Carvalho é publicitária, jornalista e mãe de dois. Sempre foi apaixonada pelas palavras e pela música. É gaúcha de São Sebastião do Caí, mas aos onze anos mudou-se para Novo Hamburgo.

Com o nascimento do primogênito, Francisco, em 2009, viveu a maior transformação da sua vida. A maternidade trouxe à tona sentimentos novos e singulares. Tudo isso foi sendo registrado em textos escritos pela publicitária que encontrou nas palavras uma forma de externar seus medos, frustrações, desafios e falar do amor que crescia dia após dia.

Com a chegada do Caetano, seu segundo filho, a maternidade se revelou em novas páginas, que foram reunidas em seu livro de estreia Mãe Sem Limite: um livro de crônicas que trata sobre as aventuras e desafios de ser mãe.

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