CRIANÇAS: VEJA AS CONSEQUÊNCIAS DA INCAPACIDADE DE DIZER NÃO A ELAS

Livro “Bento, o Menino Birrento” aborda a importância dos limites estabelecidos na infância

Ser capaz de ouvir o “não” é uma conquista que se leva para a vida toda, um exercício que começa na infância e, assim como muitas outras situações, vai preparar toda a  estrada do ser humano. Mas, quem disse se tratar de uma tarefa fácil para os pais ou cuidadores dos pequenos? Definitivamente, é um desafio, no entanto, apesar de grande, a missão é possível, principalmente quando se pode contar com o conhecimento de especialistas no assunto. Por isso, conversamos com a psicóloga Cristina Sobreira, que acaba de lançar o livro Bento, o Menino Birrento (32 páginas, R$ 33,00), pela Editora Sinopsys, uma ferramenta importante no processo de educação e compreensão do universo dos pequenos.

No livro, ela aborda a agressividade apresentada em situações que se escuta o “não”. A autora relaciona esse comportamento inassertivo com a incapacidade da criança em lidar com limites.

Ao longo da história, Cristina consegue propor reflexões, de maneira clara, quanto a origem do problema pode estar relacionada à fragilidade do adulto em dizer não para a criança e como isso reflete no desenvolvimento das relações desses indivíduos. Os desafios cotidianos são retratados de forma com que pais e crianças consigam compreender a dimensão de suas atitudes. Com linguagem lúdica, acessível e didática, a autora consegue estimular a reflexão sobre as diferentes emoções que determinadas atitudes implicarão.

Há quem imagine que a resistência ou agressividade da criança que não consegue ouvir o não é reflexo da ansiedade ou fragilidade do adulto. Será? De acordo com Cristina, depende do contexto. Na verdade, diz, a criança muito pequena pode apresentar a birra por não ter maturidade suficiente para expressar-se de outra forma. Portanto, prestar atenção e entender o motivo é importante para atender a sua necessidade, caso seja necessário. “Ela pode estar com sono, cansada, com fome, precisando de ajuda. No entanto, quando ela vai crescendo, esse comportamento precisa ser moldado de acordo com as situações. Se ela pede ao adulto, por exemplo, um brinquedo ou um pacote de chiclete no supermercado, e ele achar que não convém ou não tem condições de comprar, deve manter seu posicionamento”, afirma a especialista. Ceder pelo fato da criança fazer um escândalo ou pela dificuldade em não querer frustrá-la, prossegue, reforçará o mau comportamento, aumentando a chance da criança emiti-lo outras vezes.

Cristina ressalta ainda que que a dificuldade em dizer não do adulto, não está relacionada apenas a omissão ou passividade (dificuldade em dizer não), mas também à agressividade (dificuldade em manter o controle), pois punir a criança fisicamente diante da birra, também poderá reforçar um comportamento agressivo em outras circunstâncias. “Portanto, o ideal é posicionar-se com tranquilidade, sem gritos, sem tapas, explicar olhando nos olhos da criança, sem demonstrar raiva, o porquê do não e mantê-lo”, arremata.

Quando o responsável pela criança não consegue dizer “não” as consequências podem ser significativas para ela, especialmente nas relações interpessoais, pois haverá dificuldade em ser frustrada em seus desejos. Os coleguinhas e, até mesmo alguns adultos, podem desenvolver aversão àquela criança que acabará sendo rejeitada e tendo sua autoestima afetada. 

A história Bento, o Menino Birrento retrata essa realidade, uma vez que o garoto começa a sentir-se triste e solitário, após tantas birras. “No consultório é muito comum depararmos com essas demandas não apenas com crianças, mas também com adultos que sofrem muito por terem dificuldade nas relações interpessoais devido à baixa tolerância à frustração”, frisa a psicóloga.

Assim, o caminho pode ser a terapia que integra as ações com pais ou responsáveis e as crianças.  “Os pais devem ser entrevistados, orientados, sempre que necessário, e acompanharem todo o processo, pois a ajuda deles é indispensável. Eles devem compreender e também responsabilizar-se pelo mesmo. Tratando apenas a criança torna-se difícil o êxito no tratamento. Em alguns casos, os pais podem e devem ser encaminhados para tratamento individual com outro profissional, também”, explica Cristina.

E ela completa: melhor que tratar é prevenir, por isso devemos desde cedo conversar com a criança, contar histórias que ajudem-na a perceber que existem saídas saudáveis para os problemas, identificarem esses problemas, entenderem e aprenderem a lidar com suas emoções.

Autora

Cristina Sobreira: Psicóloga Clínica, pós-graduada em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental. Escritora e compositora, ministra cursos de técnicas de “Contação de histórias” e uso da Biblioterapia (terapia por meio da leitura) em escolas e faculdades para professores, pedagogos e psicólogos. Já atuou como psicóloga na APAE de Vitória da Conquista. Escreveu, atuou como psicóloga e coordenou Projetos Sociais financiados pelo Banco do Brasil (BB voluntário) e Conselho Estadual da Criança e do Adolescente (CECA/ Fé Criança).